DESCANSO PARA LOUCURA: Resumo: A Razão a Serviço da Fé, de Tomás de Aquino

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terça-feira, 15 de junho de 2021

Resumo: A Razão a Serviço da Fé, de Tomás de Aquino

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INTRODUÇÃO

O CRISTIANISMO E A FILOSOFIA CRISTÃ

A Razão a Serviço da Fé

São Paulo foi o responsável pelas primeiras divulgações do Cristianismo, mais especificamente aos atenienses, na Grécia. Em Atenas possuía um lugar Sagrado, reservado para os Deuses da cidade e os Deuses desconhecidos e foi lá que São Paulo falou de Jesus, da sua bondade, do seu amor por nós. Logicamente eles acharam um absurdo: como poderia um homem ter morrido por nós e depois ter ressuscitado? Então São Paulo foi zombada e ridicularizado, ficando um pouco desanimado, porém, não totalmente. Assim continuou seu trabalho, mesmo de muita dificuldade, pois se tratava de um instrumento de fé, enquanto os gregos trabalhavam com a razão.

Roma punia as pessoas que não acreditavam nos seus Deuses e forma a matá-las, isso era revoltante, foi então que surgiram os Apologistas, que se empenharam na defesa do povo romano. São Justino foi o principal apologista que alcançou e a sabedoria e a felicidade perfeitas, através do Cristianismo.

Existe uma Filosofia Cristã?

Santo Agostinho conseguiu estabelecer, a partir da sabedoria humana e apoiada na Revelação, uma Filosofia Cristã. Justamente porque naquela época havia inúmeros conflitos por conta da contradição Fé e Razão. O argumento foi que, para que uma Filosofia fosse Cristã era necessário que coincidisse com os dados da Revelação e que no seu ápice servisse para mostrar a existência de Deus.


SANTO TOMÁS DE AQUINO E A FILOSOFIA CRISTÃ

O Platonismo de Santo Agostinho

a Patrística (até o século V) foi um período da Filosofia desenvolvido por sacerdotes e padres da igreja. O principal representante foi Santo Agostinho (354-430), com uma Filosofia de caráter cristã, 'recheada' com o Platonismo (Platão) e o neo-platonismo (Plotino).

Santo Agostinho tentou resolver temas, especialmente sobre a felicidade humana, a qual só se conseguia através da Revelação Divina, pelo caminho da Fé e da Razão. O pensamento de Santo Agostinho é de caráter fundamentalmente cristão.

A retomada de Aristóteles por Santo Tomas

A Filosofia Aristotélica foi considerada pagã, por duas razões: seus princípios negavam os dogmas do Cristianismo e a sua aceitação acarretaria no abandono do platonismo. A igreja, por sua vez, perseguiu e condenou os seguidores da Filosofia de Aristóteles.


SANTO TOMÁS E OS COMENTADORES ÁRABES

Alfarabi (muçulmano), Avicena e Averróis, tentaram conciliar o aristotelismo com o Cristianismo, mas não obtiveram sucesso. Avicena fez uma grande síntese das obras de Aristóteles, já Averróis fez no aristotelismo uma alteração radical, porém, foi santo Tomás que corajosamente optou por Aristóteles e obteve sucesso.


SANTO TOMÁS E SEU TEMPO

Vida

Nasceu na época Medieval, no auge total da igreja, século XIII, na cidade de Roccasecca, perto de Aquino, daí o nome Santo Tomás de Aquino. Aos cinco anos foi levado por seus pais para um mosteiro de Monte Cassino, onde foi educado. Seus pais queriam que ele tivesse um cargo grandioso, como por exemplo, Abade de um mosteiro ou que fosse político. Mas ele optou por ser apenas um franciscano, seus imediatamente se opuseram e ele abandonou o sonho, por enquanto. a partir daí passou a fazer diversas viagens, bem como ensinar em algumas universidades.

Obras

As obras de Santo Tomás de Aquino estão divididas em dois conjuntos, são eles: comentários de textos bíblicos, comentários sobre as obras de Aristóteles e a obras originais, provenientes do seu pensamento.


O TOMISMO: PRINCIPAIS TEMAS

INTRODUÇÃO

a Teologia como Ciência

santo Tomás é um filósofo que concluiu um processo intelectual que se desenvolvia há tempos, qual seja, o problema da Razão e da Fé. Ele aproveitou os trabalhos de Santo Agostinho, de Averróis e de Avicena, concluindo de forma espetacular o problema acima citado.

Quando ele utiliza a Filosofia a serviço da Teologia rompe com os preceitos do Cristianismo e da Religião em geral. O Tomismo é este trabalho brilhante de Santo Tomás, que justifica a relação entre Fé e Razão. Primeiro ele faz uma distinção entre essas duas compreensões para depois conciliá-las, ou seja, distinção entre ordem natural e sobrenatural. Para Santo Tomás esses dois conhecimentos possuem a mesma origem, Deus. Então a Teologia é composta pelo natural e pelo sobrenatural, havendo então a Teologia puramente racional e outra, especificamente cristã.

Fontes

À sua inteira disposição estavam os manuscritos das bibliotecas de Paris e da Corte Pontifícia, as traduções das obras de Aristóteles feitas por Averróis, Avicena e outros, os trabalhos dos estagiritas, de Platão, de Boécio, do pensador judeu Maimônides, da incrível filosofia de Santo Agostinho, de Santo Ambrósio, de Cirilo de Alexandria, santo Anselmo, São Bernardo e muitos outros. Ele mesmo também fez traduções próprias das obras de Aristóteles. 

Filosofia e Teologia

Mesmo sendo primeiramente teólogo, Santo Tomás foi um grande filósofo medieval, tentando fazer da Filosofia um solo firme para a edificação da Teologia, para a partir daí melhor explicar a Revelação, já que ela teria o papel de complementar a razão, conciliando-a a fé, para chegar ao fator iluminação.


ANTROPOLOGIA

A influência de Aristóteles

Santo Tomás conseguiu o instrumental perfeito e necessário para a explicação da Revelação, a partir das seguintes afirmações: "o homem é constituído de alma", isto segundo o que diz a Revelação e, "o homem é matéria e a alma forma", isto segundo a filosofia aristotélica. A Filosofia de Aristóteles explica claramente a composição do corpo humano, já a Revelação explica a espiritualidade e a imortalidade.

A imortalidade da alma

Aristóteles acredita que após a morte a alma é um elemento perecível, porém reconhece que há nela algo mais complexo que não se explica simplesmente. Com Santo Tomás a história muda, junta aos dados da Revelação a alma, torna-se imortal e espiritual, portanto, ele complementa os conceitos de Aristóteles.

A unidade de forma substancial

A forma substancial é o elemento responsável pela formação do ser, suas características estruturais. Por exemplo: a forma substancial do homem é a intelectiva. Esse pensamento de Santo Tomás foi de encontro aos dogmas cristãos, tendo ele que elaborar algumas teses explicativas.


TEORIA DO CONHECIMENTO

Noção e natureza do conhecimento

Santo Tomás, tendo o conhecimento como a capacidade cognoscente de cada ser, divide-o em dois tipos: o sensível e o intelectível. O homem é possuidor dos dois, tendo como armas para se chegar a algum deles os sentidos. A experiência sensível é quem leva ao conhecimento da alma.

O processo de abstração

É o pressuposto que parte do particular ao universal, ao conhecimento das ideias. Os elementos necessários para se chegar ao conhecimento universal são abstraídos de condições concretas, particulares e sensíveis. O entendimento na forma de Ato acarreta no inteligível, também na forma de Ato.

A questão do entendimento agente

O entendimento agente é imortal e comum a toda a humanidade. Ele apresenta uma essência abstrata para mudar o entendimento inteligível em potência. Santo Tomás foi um pouco mais fundo e apresentou algo mais compatível com a fé cristã. De acordo com seus conceitos, este entendimento além de agente é também paciente e deve ser compreendido como perfeição da alma, é a capacidade de abstração da alma.

A certeza e a verdade

A conformidade do conhecimento no momento da percepção confirma a certeza e a verdade. A verdade está no ápice da hierarquia da divindade, depois vem o ser humano, depois as coisas e assim por diante.


METAFÍSICA

Caráter geral da metafísica tomista

A metafísica de Santo Tomás está especialmente dividida em dois tipos: Filosófico e Teológico. A parte filosófica não é considerada perfeita por ser comprometida pelo pensamento de Aristóteles; já a parte teológica é bem melhor elaborada,  sendo marcada pelo contexto teológico e pela reflexão pessoal.

O realismo metafísico

Por ser o ponto marcante da metafísica tomista, o realismo metafísico caracteriza-se pela apresentação de elementos próprios dos seres limitados. Temos em Santo Tomás uma divisão desses elementos: primeiro as substâncias simples, espirituais, seguida das sensíveis materiais, logicamente resultando num ser sensível concreto.

A substância

Diferentemente de Aristóteles, que deu a substância um lugar de destaque no que diz respeito ao ser, ou seja, o maior representativo do ser, Santo Tomás modificou o conceito de substância a ponto de quebrar o confronto entre Revelação e Teologia, com essa modificação a substância superou até a metafísica.

A distinção real entre essência e existência

Mais uma vez Santo Tomás foge um pouco do aristotelismo quando utiliza a noção de essência e existência, com o auxílio da noção de ser contingente, fazendo distinção entre ato e potência e entre matéria e forma. Esse rompimento com o aristotelismo faz Santo Tomás levar mais uma vez a Filosofia para os caminhos da Teologia.

A analogia do ser

Aqui é feita uma harmonização entre Filosofia e Teologia, veja: em Santo Tomás o ser não é apenas racional ou real, mas é cognoscível e inteligível. Se não bastasse dar essa característica tão importante ao ser, ele dá também permissão de se salvar a transcendência de Deus em relação ao mundo real.

O princípio da individuação

Neste caso Santo Tomás não se distancia muito de Aristóteles, articulando o princípio da individuação através da matéria-prima, de forma substancial e do acidente da quantidade.

Para ele há dois tipos de criações, são elas: a criação feita por Deus e a geração pela ação das causas, isso segundo a diversidade da forma substancial. Diferentemente de muitos pensadores, Santo Tomás acredita que para se chegar ao inteligível é preciso seguir o caminho através do sensível, do concreto.

Os transcendentais

O uno, o conceito análogo, as propriedades dos ser enquanto ser, representam o princípio dos transcendentais em Aristóteles. Como sempre, Santo Tomás não contentou-se com este conceito apenas, e o reformulou procurando com isso salvar a identidade dos transcendentais, juntamente com o ser. Nesta nova hierarquia colocou o ser em primeiro lugar, depois o uno e identificou o conceito de ser enquanto ser.

A Teologia natural

Santo Tomás fecha o seu trabalho com a Metafísica com "chave de ouro". Dividiu, então, a Teologia. Colocou de um lado a filosófica e de outro a cristã. Negou a validade que detinha até então o termo a priori e desenvolveu cinco fantásticos argumentos para provar a existência de Deus: o do Primeiro Motor, da Causa e Efeito, da Contingência, dos Graus da Perfeição e dos Universais.


A ÉTICA

O ser e o bom

O tomismo é concluído em grande estilo com a apresentação da Ética de Santo Tomás, mesmo que ela seja dependente da Metafísica. Segundo ele, para cada ser há necessariamente uma substância correspondente a ele e uma espécie de bem, porém o único que possui um bem perfeito é o Ato Puro.

O bem supremo

Ele é uma necessidade que a humanidade tem de alcançar a felicidade, sendo que sua perfeição é infinita e sua duração também; para se chegar a Ele deve-se seguir uma razão coerente, não tornando-se muito difícil, pois o homem é atraído por este bem supremo, Ele é Deus.

O conhecimento do bem

O conhecimento do bem nada mais é do que o seguimento da razão e da fé, chegando-se a revelação que, juntamente com o conhecimento do bem nos levam a felicidade e, segundo Santo Tomás, a felicidade pode ser alcançada ainda na vida terrena.

A obrigação e a sanção moral

Santo Tomás aproveita esse conceito para provar mais uma vez a existência de Deus e a sua participação na nossa vida. É assim: se vivermos segundo a razão poderemos cumprir um caminho e um papel que já foram predestinados por Deus, ou seja, está naturalmente ordenado; agora, se não cumprirmos este processo teremos sérios prejuízos.


A FILOSOFIA  SOCIAL E POLÍTICA

Os fundamentos da ordem social e política

A política aparece como um acabamento da ética tomista, envolvendo desde a lei natural até a lei humana. A consumação relativa e temporal da felicidade é representada pelas leis sociais. Mais uma vez Santo Tomás hierarquiza seus conceitos filosóficos/teológicos: de maneira crescente, o direito civil e as leis sociais, seguido do direito natural, da lei natural e do "mais alto do pódio", a lei eterna.

O Estado

Está contido do direito natural dos fundamentos da ordem social e política, é citado em Santo Tomás como a melhor forma de governo, desde que reine o bem como e a busca do respeito, sendo o bem comum a principal característica de um bom governante e se ele perder essa qualidade não será mais um representante do povo, mas um agressor, causando então várias distorções no estado.

A Igreja

A Igreja é subordinada a vários conhecimentos, exceto ao Estado; sobre o Estado a Igreja é quem dá as cartas, sendo ela uma instituição responsável pelo esclarecimento do fim último do homem, a felicidade divina. O que não é possível se explicar pelas demais instituições passa a ser explicado pela Igreja, isso segundo a fé.

O direito das gentes

O direito das gentes está incluído nos fundamentos da ordem social e política, no que diz respeito ao direito natural, seguindo a razão natural é constatado de forma legítima, que o direito das gentes é a relação entre as nações.


REPERCUSSÃO HISTÓRICA

Situação paradoxal do Tomismo

Só a partir do século XIX o tomismo foi aceito como um apoio oficial a Igreja Católica, entretanto uma situação paradoxal aparece quanto a relação entre Filosofia e Teologia, pois estes dois conhecimentos aparecem de forma clara na filosofia tomista, havendo uma dependência muito forte entre eles. O tomismo então sofreu grandes mudanças, inclusive radicais, fazendo com que ele seguisse o caminho decadente que seguiu também o aristotelismo.

Valores intrínsecos do tomismo

Mesmo com a força dos opositores e dos que não aceitavam, o valor intrínseco do Tomismo foi finalmente compreendido, graças ao redescobrimento das obras de Aristóteles, numa época em que o povo estava em busca de soluções religiosas, daí veio o Tomismo para resolvê-las na quase totalidade, mesmo assim só foi melhor compreendido no final do século passado.

O Tomismo e o descobrimento da América

1942 foi a época em que o Tomismo estava um pouco enfraquecido, Cristóvão Colombo conquista a América e através de estudos feitos por estudiosos da época, o Tomismo é retomado. Foi Francisco Vitorio quem elaborou doutrinas para o direito internacional moderno segundo princípios cristãos e tomistas, porque com a conquista da América os trabalhos de Francisco Vitorio entraram no cotidiano de colonizadores e colonizados. Então a obra de Santo Tomás tornou-se ponto de referência para várias instituições e também para o dia a dia das pessoas.

A neo-escolástica

A renovação da Filosofia Cristã que estava para vir fez nascer alguns grupos de oposição, a neo-escolástica, por exemplo, surgiu em relação a estas mudanças, ela visava o diálogo e ao mesmo tempo o confronto coma  Filosofia moderna. Mais tarde surgiu o neo-tomismo reforçando ainda mais o pensamento de Santo Tomás.

Leão XIII e o Tomismo

O Papa Leão XIII foi importantíssimo para o pensamento de Santo Tomás e Aquino, nas suas obras ele deu várias ordens e fez várias recomendações ao tomismo, foram elas: propôs a restauração da filosofia cristã através do tomismo, declarou Santo Tomás patrono de todas as escolas católicas e patrocinou a fundação da Academia de Santo Tomás em Roma.


TOMISMO NO BRASIL

A Companhia de Jesus

Cursus Fhilosophicus, esta foi a obra de Santo Tomás que a Companhia de Jesus (em 1639) impôs a ser obrigatoriamente adotada; foi imposto também que os Jesuítas  só poderiam estudar as Suma Teológica de Aristóteles ou dos filósofos que tivessem  pensamentos de caráter aristotélico.

As instituições religiosas e acadêmicas

O tomismo começou a ser difundido no Brasil no estado de São Paulo, no Mosteiro de São Bento onde funcionou a primeira Faculdade de Filosofia e Letras. O professor responsável pela cadeira de Filosofia foi o Monsenhor Carlos Sentroul, da Universidade de Lavoiana. Posteriormente ele voltou a Europa e o ensino de Filosofia só foi retomado por Leonardo Van Acker (1922). Depois foi a vez do professor Alexandre Corrêa, que além de ensinar, publicou vários livros, dentre eles uma primorosa tradução da Suma Teológica.

Além de São Paulo, o estado do Rio de Janeiro desempenhou papel importante no estudo do tomismo, com a fundação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, de responsabilidade do padre Leonel França, em 1940.

Por fim, o tomismo recebeu apoio do padre Maurício Teixeira Leite Penido (1895), que veio de Friburgo (Suiça) para o Distrito Federal.

Caráter geral do Tomismo

Os divulgares do tomismo no Brasil se preocuparam apenas em reproduzir um pensamento que tinha caráter marcado pelo regime da cristandade, ou seja, um caráter reacionário e conservador. Tornou-se uma ideologia, preocupado com os preceitos cristãos e não com a filosofia verdadeira.


CONCLUSÃO

O Tomismo foi bastante prejudicado em determinados períodos, isso porque tornou-se objeto de pronunciamentos oficiais escolásticos e também porque foi proposto pelo Papa como uma filosofia que guiaria o homem. De certa forma o tomismo perdeu a essência de um pensamento, de fato, filosófico, pois tentaram de todas as formas usá-lo principalmente na sua vertente religiosa.


REFERÊNCIA

COSTA, José Silveira da. Tomás de Aquino: a Razão a serviço da Fé. São Paulo: Moderna, 1993 (Coleção Logos).

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