RESUMO CRÍTICO -
CAPÍTULO IV: O SERVIÇO SOCIAL EM TEMPO DE CAPITAL FETICHE
Inicialmente Iamamoto (2008) explica qual o objetivo
deste capítulo, no qual “objetiva oferecer subsídios teórico-metodológicos
concernentes ao trabalho e sociabilidade na sociedade burguesa que permitam
adensar e subsidiar a análise do trabalho do assistente social (p. 336). Também
buscará apresentar considerações acerca da formação universitária do assistente
social, na sociedade brasileira. Mais que isso, objetiva analisar as
particularidades do exercício profissional, dentro da relação projeto profissional
e estatuto de assalariado.
Iamamoto (2008) enfatiza que “revisitar os fundamentos do
trabalho e sociabilidade sob a ótica do capital é atestada pela polêmica
instaurada no universo da profissão” (p. 336), porque em tal polêmica
questiona-se sobre a prática profissional desenvolvida pelo assistente social. Naquele
embate travado dentro da profissão, pelos maiores teóricos do serviço social,
quanto a compreensão do serviço social dentro da categoria trabalho, ou não.
Salienta,
Que o texto parte de uma breve
retrospectiva do debate contemporâneo sobre o trabalho e das temáticas que o
polarizam. Realiza um percurso teórico informado pelo legado de Marx, a partir
de fontes hoje pouco tratadas na literatura sociológica tendo por diretrizes as
relações entre estrutura e ação dos indivíduos sociais, trazendo o sujeito que
trabalha para a cena de análise. Particulariza a forma de individualidade
social na sociedade burguesa e seus fetichismos. Atribui destaque às ideias
oriundas da esfera da circulação que regem as relações entre iguais
proprietários de mercadorias e que se encontram na raiz da concepção liberal,
tão em voga na sociedade contemporânea (IAMAMOTO, 2008, p. 337).
Porém, o núcleo de sua análise é investigar a conjunção
entre projeto profissional e o trabalho assalariado. Enfatiza que o projeto
profissional “reconhece o assistente social como um ser prático-social dotado
de liberdade, capaz de projetar seu trabalho e buscar sua implementação por
meio de sua atividade” (IAMAMOTO, 2008, p. 337/338). Mas, Iamamoto (2008)
também mostra que esta autonomia e ou liberdade expressada no projeto
profissional é bastante relativa, uma vez que o assistente social recebe os
limites próprios da sociedade capitalista neoliberal e que são repassados para
as instituições (públicas ou privadas) onde estão inseridos os assistentes
sociais, logo, tais profissionais recebem muitas restrições por parte dos seus
empregadores. Aproveitando o parágrafo anterior mencionamos que a autora lembra
também de sua abordagem com relação à formação do assistente social, isto é,
essa força de trabalho que se apresenta, principalmente servindo ao Estado.
Salientando que o assistente social também participa de uma dimensão de “troca
de mercadoria”, quando recebe o salário em troca do mês de serviço.
1.
Trabalho
e sociabilidade:
1.1.
O
debate sobre o processo de trabalho: o sujeito em cena:
Para a autora não é fácil tratar desta temática,
usando-se na teoria social de Marx, uma vez que ainda há bastantes restrições
no âmbito da academia. Mas, no seu texto, Iamamoto (2008) visa abordar o
“significado do trabalho no processo de constituição do indivíduo social e na
produção da vida material, nos marcos da sociedade capitalista” (p. 339).
Sinaliza que no campo da Sociologia do trabalho as
preocupações estão assentadas no princípio do consentimento por parte dos
trabalhadores, no uso de mecanismos de controle que vão deste o toyotismo ao
pós-fordismo; salientando as diversidades regionais e locais, a diversidades
das experiências nas relações sociais, identificando as situações de dominação,
exploração e exclusão, porém, deixando de lado uma análise a partir da
definição de classes sociais. Também a polêmica teórica em torno do trabalho
passa pela obra de Braverman (1977), porque em seu livro, ele “representou um
marco decisivo na retomada da análise do processo de trabalho na expansão
monopolista, no âmbito da tradição marxista. (...) Seus estudos versam sobre os
processos de trabalho e o modo específico pelo qual eles são construídos”
(IAMAMOTO, 2008, p. 342).
Há, portanto, controvérsias ao trabalho de Braverman,
quando ele sinaliza, que o trabalho é usado com fins exclusivos para a
acumulação capitalista, havendo assim, um forte controle e uma dura
racionalização sobre o trabalho, por parte dos capitalistas. Tudo acaba
gerando, dentre outras situações, uma qualificação/desqualificação do trabalho,
contribuindo com a heterogeneidade no universo dos trabalhadores. Os críticos
também interceptam que os trabalhadores não amadureceram a dimensão da classe em si, menosprezando seus níveis
de consciência, organização e atividades. Também dizem que Braverman assumiria
uma defesa indireta/acriticamente sobre o taylorismo, negligenciando a
possibilidade de outras formas de gerência e otimização do trabalho; finalmente
critica-se a possibilidade de uma teleologia[1] objetivista, “que
circunscreve restritivamente a importância de luta de classes à organização nos
locais de trabalho, o que vem sendo revertido por pesquisas recentes”
(IAMAMOTO, 2008, p. 343).
O ponto positivo é que, não só as novas teorias
formuladas, tanto no leito de teoria social de Marx, quanto àquelas que se
distanciam um pouco, assim como os críticos e suas formulações, sinalizam a
fecundidade di debate em torno da categoria trabalho, e neste caso, processos
de trabalho. Por fim, as críticas a Bravernam desembocam, efetivamente, na
crítica a teoria do valor trabalho de
Marx. Onde, de acordo com os críticos, ela traria à tona certa visão
objetivista e determinista, que privilegiaria a estrutura sobre os sujeitos.
A hipótese é de que as restrições
supra-anunciadas à teoria social de Marx advêm de leituras que descartam a
dimensão ontológica nela presente. Esta acentua o papel do trabalho, enquanto
componente distintivo do homem como um ser social político e, portanto,
histórico, produto e criador da vida em sociedade (IAMAMOTO, 2008, p. 345).
Mais a frente relembra-se que manter e considerar a
ontologia[2] do sujeito que trabalha,
isto é, o humanismo a ele inerente e que está sinalizado na obra marxista, é
condição essencial para fazer emergir o sujeito social, criativo e pensante. E
as críticas a Marx, segundo Iamamoto (2008) só reforçam a necessidade de se
apresentar a abordagem do trabalho e do indivíduo social. Também quando se
enfatiza e se utiliza da obra marxiana, quer se privilegiar uma abordagem
versada e pelas dimensões da totalidade, ontologia e historicidade, categorias
que permitem entender o ser social, aquele que vende sua força de trabalho ao
empregador, da maneira mai abrangente.
Finaliza tal tópico sinalizando que é de extrema
importância fazer esse percurso teórico-metodológico por uma via dupla:
importante para o serviço social, tanto na ótica do exercício profissional,
quanto na ótica daqueles que receberam a ação profissional.
1.2.
Trabalho
e indivíduo social:
De acordo com Coutinho Apud Iamamoto (2008) diz que:
As ações humanas são determinadas por
condições externas aos indivíduos singulares e o fato de que, ao mesmo tempo, o
social é constituído por projetos que os homens tentam implementar na vida
social. A ontologia marxista dirá que o ser social é formado por determinismo e
liberdade. Ou, em termos mais modernos (...) que a sociedade é formada
simultaneamente por momentos de estrutura e momentos de ação (p. 346).
Já se sabe que toda produção
é apropriada da natureza pelo indivíduo, por uma forma de apropriação
determinada socialmente. “Marx arranca sua noção de produção[3] da auto-criação dos
indivíduos vivos e reais socialmente. Portanto, o indivíduo social é histórico,
fruto das contradições sociais, ao mesmo tempo em que cria é criado e
re-criado; logo, a ideia de indivíduo isolado é no mínimo excludente e a -
histórica, afinal existe uma dimensão histórica, social, com sucessivas
metamorfoses, na qual está inserido o individuo social, parte de uma
coletividade. É preciso que compreendamos as duas dimensões, por exemplo: “a
sociedade não consiste em indivíduos, mas expressa a súmula das relações e
condições nas quais esses indivíduos encontram-se reciprocamente situados”
(MARX Apud IAMAMOTO, 2008, p. 342).
Para desenvolver o texto, a
autora insiste na apresentação do indivíduo – o sujeito social que produz - e
sua relação íntima com transformação da natureza e dura sobrevivência diante da
ação predatória e excludente do capitalismo perverso.
Para ela:
O homem, criatura natural, dotado de
uma base orgânica, em que se encontram inscritas infindas capacidades e
possibilidades. Para prover suas necessidades, interage com objetos de natureza
orgânica e inorgânica. (...) Suas atividades se diferenciam pelo trabalho, dos
demais seres naturais. (...) Sendo o trabalho a atividade vital específica do
homem, ele mediatiza a satisfação de suas necessidades pela transformação
prévia da realidade material, modificando a sua forma natural, produzindo
valores de uso (IAMAMOTO, 2008, p. 349).
Portanto, o trabalho é uma
atividade racional e destina-se a um fim, gerar mercadorias, para que o homem
usá-las para um determinado fim: a sobrevivência sua e de sua família. Essa
transformação dos elementos materiais – através do trabalho do homem – gera
valor de uso, este é adquirido através do trabalho concreto e representa a
atividade existencial do homem, sua atividade livre e orientada
conscientemente. Para elencarmos mais elementos que fazem diferenciar a
atividade humana de qualquer outra no universo da natureza, pode-se dizer que é
o homem um único ser a utilizar instrumentos de trabalho. Tais instrumentos
servem de vínculo entre a matéria a ser transformada e o homem. O trabalho, e
essa atividade tipicamente humana, permite-nos dizer que o ser humano é um ser
criativo e capaz, inclusive, de criar novas necessidades[4]: e assim ele produz
objetos, meios de vida, enfim produz na dimensão objetiva e também na dimensão
subjetiva: coisas materiais e da subjetividade humana.
O trabalho é, portanto, inseparável do
conhecimento, de ideias e concepções de mundo, isto é, de formas de pensar a
vida real. O ser que trabalha constrói para si, através de sua atividade, modos
de agir e de pensar, ou seja, numa maneira especificamente humana de se
relacionar com as circunstâncias objetivamente existentes, delas se
apropriando, tendo em vista a consecução de fins propostos pelo sujeito da
criação de objetos capazes de desempenhar funções sociais, fazendo nascer
valores de uso (IAMAMOTO, 2008, p. 352).
Pontos negativos existem, e
são muitos, tais como: a divisão do trabalho e principalmente a apropriação dos
instrumentos de trabalho, por parte do capitalista, assim como a posse da propriedade
privada. Quanto à divisão do trabalho, ela traz em seu seio a desigualdade e a
contradição entre o interesse coletivo e o interesse individual.
Quanto ao caráter essencial
do trabalho, este “se expressa essencialmente no fato de que o homem só pode
realizá-lo através da relação com outros homens. E só pode tornar-se homem ao
incorporar, à sua vida, à sua própria atividade, formas de comportamento e
ideias criadoras por gerações precedentes” (IAMAMOTO, 2008, p. 352).
Voltando aquela questão da historicidade,
aliada a compreensão de homem, ela é importante porque “a história é o processo
pelo qual o homem se forma e si transforma a si mesmo, graças à sua própria
atividade, ao seu trabalho; e a característica maior do homem é precisamente
sua atividade espontânea que modela a subjetividade” (IAMAMOTO, 2008, p. 354).
1.2.1.
A
forma histórica de individualidade social na sociedade burguesa:
Buscam-se com este item,
apreender a forma específica de individualidade ou de sociabilidade humana,
estas dimensões indissociáveis do caráter histórico-social, dentro das relações
sociais de trabalho, na esfera mercantil.
Iamamoto (2008) enfatiza neste item que a forma de
organização burguesa, que é histórica, uma maneira de desenvolvimento humano
que se reporta para a universalidade, assim como a predisposição para a
alienação da classe operária. Enfim, uma forma histórica de individualidade
social. Atrelado a tudo isto, notamos na esfera da sociedade burguesa uma forma
histórica de produtividade humana, de ordem capitalista. Porém, na concepção de
Marx, Iamamoto (2008) salienta que há uma “forma particular de individualidade
social, distintiva da sociedade burguesa, encontrada diretamente em relação ao
desenvolvimento da divisão do trabalho em relação à universalização dos laços
de dependência que se estabelecem entre os indivíduos produtores na sociedade
mercantil” (p. 359).
Sobre o trabalho, diz-se que ele assume uma identidade
dupla, à medida que são trabalhos concretos, qualitativamente determinados, que
são voltados a produção de mercadorias; por outra face ele só assume valor
quando passa a fazer parte da dimensão da troca, isto é, se transforma em valor
de troca para satisfazer as necessidades humanas. As mercadorias, por sua vez,
adquirem valor, porque nelas está embutida a força de trabalho humano, daí seu
valor real decorre da quantidade de tempo necessário para a produção da
mercadoria, ou seja, o trabalho socialmente necessário.
As mercadorias só se materializam como
valores por serem expressão de uma mesma unidade social: trabalho humano.
Assim, sua objetividade como valores é puramente social, só podendo revelar-se
na relação de uma mercadoria com as demais, abstraindo-se da forma natural
concreta, tangível, que assumem, uma vez que no valor objetivado na mercadoria
“não se encerra um átomo de matéria natural” (IAMAMOTO, 2008, p. 360).
Portanto, o valor de uma mercadoria corresponde à sua
relação social, àquele tempo de trabalhos socialmente necessário para
produzi-la. Ela é universal, tempo de trabalho materializado. Quanto à troca
das mercadorias, o que gera essa troca, são as necessidades humanas, que são
criadas consecutivamente.
O processo de troca atribui à
mercadoria não o seu valor, mas sua forma valor específico: o valor de troca,
que, representado por uma mercadoria particular – o dinheiro – permite
estabelecer as relações de equivalência de valor com todas as demais
mercadorias, pó espelhar o valor nelas contido (IAMAMOTO, 2008, p. 361).
A fetichização na mercadoria ocorre porque os
trabalhadores não se reconhecem no resultado do seu trabalho – a mercadoria –
não reconhecem as características próprias da subjetividade humana, presentes
nas mercadorias. Atravessando todas as mercadorias, ou seja, mediatizando todas
elas, está o dinheiro. Ele, originalmente, representa todos os valores, assim
como todas as formas de trabalho se resumem a ideia do dinheiro. “O dinheiro
expressa, pois a universalização das relações de dependência entre produtores.
Isso porque a redução de todos os produtores e de todas as atividades a valores
de troca pressupõe a dissolução das relações de dependência pessoal (...)”
(IAMAMOTO, 2008, p. 366).
Já como dito tantas vezes anteriormente, “nessa
sociedade, o trabalho pessoal não é diretamente social e só adquire este
caráter por intermédio de uma forma social, ainda que dela distinta – a forma
valor – mediante a qual possa expressar-se enquanto trabalho social” (IAMAMOTO,
2008, p. 373).
Usando-se da teoria marxista, a autora sinaliza que há
uma distinção entre vida pessoal e vida social, no que concerne ao indivíduo,
operário. Tal distinção é conferida através da alienação do trabalho, que teve
sua raiz histórica na divisão social do trabalho, que determina funções
distintas – socialmente – para cada tipo de sujeito.
1.2.2.
Processo
capitalista de trabalho e indivíduo social:
Nesta etapa, Iamamoto (2008)
se propõe a analisar o processo capitalista de produção, com destaque para a
própria categoria trabalho e seu processo de realização; também busca apreender
o processo de produção capitalista na produção de mercadorias e seu respectivo
movimento, entre outras análises.
A mercadoria é, em si, um
valor, um valor de uso. Desta mesma forma, o capitalismo é unidade imediata do
processo de trabalho, criação de valor e de mais-valia. O trabalho que se
destina a elaboração de mais-valia é trabalho abstrato, produto do capital; em
síntese, processo de imediato de produção está intimamente ligado ao processo
de trabalho, assim como o processo de valorização de mercadoria é processo de
valor de uso e valor de troca.
O capital, por outro lado,
jamais repassa para o operário a ideia de que está explorando seu trabalho, mas
ao inverso, “o pressuposto da existência do capital é o trabalhador livre”
(IAMAMOTO, 2008, p. 378). Seria um trabalhador livre e proprietário de si mesmo,
logo, dono da sua força de trabalho, podendo vendê-la ou não, por um
determinado período, para o capitalista que detém os meios e os instrumentos de
produção; portanto, ele (operário) é livre para vender a sua força vital, sua
capacidade física e psíquica. Mas, sendo assim, o ele é “destituído de qualquer
propriedade que não sua força de trabalho, que em si é mera potência ou
capacidade e só pode realizar-se ao encontrar lugar no mercado de trabalho,
quando demandado pelos proprietários de capital” (IAMAMOTO, 2008, p. 379). Para
o trabalhador, vender a força de trabalho é um ato bem simples, afinal, ele
vende a força de trabalho para poder comprar, trata-se, portanto, e mais uma
vez, de uma relação de troca. O que lhe confere um pagamento é o salário, isto
é, o dinheiro. Por outro lado, o interesse do capitalista é distinto: fazer com
que a mercadoria obtenha mais valor do que se almejaria, isto é, gerar
mais-valia, ou seja, usar o trabalho excedente do operário, sem que este seja
remunerado. “Em síntese, o trabalho, ao realizar-se, é uma atividade do trabalhador
como gasto de força vital, mas como criador de valor, é um modo de existência
do valor do capital, a este incorporado” (IMAMOTO, 2008, p. 385). Portanto, do
ponto de vista do capital é mais-valia, já do ponto de vista do trabalhador é
simplesmente mais trabalho. Isto significa que o trabalhador não pode criar
tempo de trabalho excedente à sua sobrevivência, sem antes criar trabalho
excedente para o capital. Logo, o trabalho do indivíduo não enriquece a si
mesmo, mas ao capital sim, uma vez que esse domina os meios e os instrumentos
de trabalho.
A alienação que ocorre nesse
processo de produção ocorre porque há um estranhamento entre o produtor e o
produto, deste os instrumentos que o mesmo utiliza para produzir, até o
resultado do seu trabalho: a mercadoria, logo, “o produto apresenta-se como uma
combinação de material alheio, instrumento alheio e trabalho alheio: como
propriedade alheia (MARX Apud IAMAMOTO,
2008, p. 390). Em analogia, o domínio do capitalista sobre o trabalhador, é o
domínio da coisa sobre o homem e que gera um trabalho forçado, de modo que o
trabalho escravo e o trabalho assalariado têm propriedades similares.
O enfrentamento da alienação do
trabalho pelos trabalhadores vem implicando historicamente a luta por seus
interesses coletivos e por seus direitos como livres proprietários, contra a
lapidação de sua força de trabalho, de sua condição vital, passando pelo
reconhecimento jurídico dos direitos relativos ao trabalho por parte do Estado,
através de árdua batalha por uma legislação que os proteja (IAMAMOTO, 2008, p.
391).
Isso
é bastante importante de se enfatizar, porque à medida que o capitalismo problematiza
ainda mais as contradições e as desigualdades sociais, também permite e
estimula a organização dos trabalhadores, enquanto classe e objetivando os
mesmos interesses.
1.2.3.
Classe
e cultura:
Enfatizamos mais uma vez uma característica inerente ao
processo de criação de valor e mais-valia, qual seja, a criação e a permanência
da desigualdade social, além disso, reproduz o conflito entre ser e
consciência, entre história e consciência, enquanto alienação e enquanto
mediação crítica da história. Aproveitamos para elucidar a importante diferença
na compreensão da classe em si e da classe para si. A classe em si simplesmente
acontece quando os homens, unidos em torno de um objetivo (objetivos) comum, se
organizam, se articulam e assim criam uma identidade; já no estágio de classe
para si, esses mesmos homens reunidos, com uma identidade criada histórico e
culturalmente, definem uma maneira de se expressar e de sintetizar suas
aspirações (incluído, tradições, sistemas de valores, ideias e formas
institucionais).
2.
O
trabalho do assistente social em tempo de capital fetiche:
2.1.
O
trabalho do assistente social:
De acordo com Iamamoto (2008), “o propósito deste
segmento é indicar elementos para uma análise do trabalho do assistente social
em tempo de capital fetiche, levando em conta: projeto ético-político e
estatuto de assalariado” (p. 414); observando também a produção teórica do
serviço social e sua especialização enquanto trabalho, na divisão social e
técnica do trabalho.
Quanto ao projeto profissional e o assalariamento,
trata-se de uma dupla determinação do trabalho do assistente social, como
trabalho útil e também abstrato.
E quanto a esse assalariamento, ele sinaliza:
A
mercantilização da força de trabalho do assistente social, pressuposto do
estatuto assalariado, subordina esse trabalho de qualidade particular aos ditames
do trabalho abstrato e o impregna dos dilemas da alienação, impondo
condicionamentos socialmente objetivos à autonomia do assistente social na
condução do trabalho e à integral implementação do projeto profissional
(IAMAMOTO, 2008, p. 416).
Há, portanto, uma clara tensão entre projeto profissional
e condição de assalariado, pois, este primeiro assegura a liberdade e a
teleologia ao assistente social, quando na realização de projeções que buscam
modificar a realidade social, ao passo que a segunda condição o submete ao
domínio e as limites do empregador, logo às condições internas e externas da
instituição, que está inserido.
O ideal é que se rompa com situações e práticas que se
reportam para atitudes de vieses fatalistas, messiânicos, voluntaristas etc. e
buscar participar de um empreendimento coletivo, contribuindo, de repente, para
uma consciência de classe para si.
Logo, sinaliza Iamamoto (2008):
Sendo
o assistente social um trabalhador assalariado, vende sua força de trabalho
especializada aos empregadores, em troca de um equivalente expresso na forma
monetária; (...) o valor de troca de sua força de trabalho expresso no
dinheiro, forma de equivalente geral, no qual se manifesta o valor de todas as
demais mercadorias de qualidades diferentes, permitindo o seu intercâmbio (p.
420).
Portanto, o trabalho do assistente social ganha uma dupla
dimensão: por um lado, atende as necessidades sociais, na condição de trabalho
útil; por outro, se iguala em condições, a qualquer outro trabalhador, público
ou privado.
Quando ingressa nas instituições, após ter tido sua força
de trabalho especializada em universidades e em congressos, seminários, etc.,
dos quais participa, o assistente social passa a fazer parte de um trabalho
coletivo, implementando ações institucionais. Significa que, enquanto trabalha,
sua ação é absorvida por outro sujeito – o empregador – e sendo assim, sua
autonomia é bastante relativa, mesmo que, legalmente ela seja absoluta e isenta
de implicações externas. Então, “o trabalho do assistente social encontra-se
sujeito a um conjunto de determinantes históricos, que fogem ao seu controle e
impõem limites, socialmente objetivos, à consecução de um projeto profissional
coletivo no cotidiano do mercado de trabalho” (IAMAMOTO, 2008, p. 424). Mas,
ainda assim, eles (assistentes sociais) dispõem de um manancial de denúncias
sobre violação de diretos humanos, a socialização de informações, que permite a
dimensão democrática, tornando-se transparente em suas ações e suas
intervenções.
Para finalizar, mais uma vez usamos as palavras de
Iamamoto (2008), nas quais ela diz que para decifrar o trabalho do assistente
social, como trabalho concreto e abstrato, torna-se necessário analisar as
particularidades e as condições das relações sociais, onde ele está inserido e
perceber que, diferentes processos de trabalho se inserem na prática deste
profissional.
Imagem copiada de: www.cortezeditora.com.br |
IAMAMOTO, Marilda
Villela. Cap. IV: O Serviço Social em tempo de capital fetiche. In: Serviço Social em tempo de capital fetiche:
capital financeiro, trabalho, questão social. 2 ed. – São Paulo: Cortez,
2008.
LESSA, Sérgio. Serviço
Social e Trabalho: do que se trata? Revista Temporalis, v. 1, nº. 1,
Brasília, 2000, p. 35-58.
[1]
“A dimensão teleológica é a capacidade do homem de projetar antecipadamente na
sua imaginação o resultado a ser alcançado pelo trabalho, de modo que, ao
realizá-lo, não apenas provoca uma mudança na forma da matéria natural, mas
nela realiza seus próprios fins” (IAMAMOTO, 2008, p. 349).
[2]
Lessa (2000) noutro trecho enfatiza a necessidade de dar uma importância
considerável e questão da ontologia; diz ele: “a importância da centralidade
ontológica do trabalho é que ela possibilitou a Marx elucidar como os homens
produzem todas as relações e complexos sociais, inclusive a sua essência, de
tal modo a desautorizar todas as ideologias que afirmam ser o capitalismo a
última forma possível de sociabilidade humana porque corresponderia à imutável
e insuperável essência mesquinha, egoísta e burguesa dos homens” (p. 18).
[3]
Quanto ao
processo de produção, se considerado em sua totalidade, ele divide-se nas
seguintes unidades: produção, distribuição, troca e consumo. Todas essas
etapas, necessariamente, versam por um mesmo elemento: a mercadoria.
[4]
Sobre esta questão das necessidades, Lessa (2000) diz que “o trabalho, ao
converter a natureza em bens sociais, produz não apenas o “novo” do ponto de
vista objetivo (...); mas também transforma o indivíduo ao dotá-lo de novas
habilidades e conhecimentos e, portanto, também de novas necessidades. É isto
que faz com que o trabalho, ao longo da história, coloque necessidades novas
que apena podem ser atendidas se os homens desenvolverem novas relações sociais
voltadas especificamente a estas novas necessidades (p. 17).
Parabéns.
ResponderExcluirMuito obrigado! Valeu!
ExcluirPARABÉNS!
ResponderExcluirMuito obrigado por comentar! Abraço!
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