Temporalis / Associação Brasileira de
Ensino e Pesquisa
Maria Carmelita Yazbek
“Aqui faz-se a análise da pobreza e da exclusão social como algumas das resultantes da questão social que permeiam a vida das classes subalternas em nossa sociedade e com as quais nos defrontamos cotidianamente em nossa prática profissional”. (p. 33)
“A lógica contemporânea de reprodução de capital, subordinada a um mercado sem limites e sem fronteiras sociais, vem produzindo ‘o caminho da irresponsabilidade global’ e construindo uma trama social na qual ‘rompem-se as regulações que bem ou mal, ordenavam a desigualdade’ constitutiva do capitalismo”. (Idem)
Aqui parte-se do debate acumulado no âmbito do Serviço Social que situa a questão social como elemento central na relação entre profissão e realidade.
“A pobreza é um fenômeno multidimensional, é categoria política que implica crescimentos no plano espiritual, no campo dos direitos, das possibilidades e esperanças”. (p. 34)
“A pobreza é uma face do descarte de mão de obra barata, que faz parte da expansão capitalista”. (p. 35)
“Há um contexto de subalternização do trabalho à ordem do mercado e de montagem de direitos sociais e trabalhistas”. (Idem)
“O aviltamento do trabalho, o desemprego, os empregados de modo precário e intermitente, os que se tornaram não empregáveis e supérfluos, a debilidade da saúde, o desconforto da moradia precária e insalubre, a alimentação insuficiente, a fome, a fadiga, a ignorância, a resignação, a revolta, a tensão e o medo são sinais que muitas vezes anunciam os limites da condição de vida dos excluídos e subalternizados na sociedade”. (Idem)
“Onde antes o discurso da cidadania e dos direitos tinha algum lugar ou pertinência no cenário público, é hoje ocupado pelo discurso humanitário da filantropia”. (Idem)
“Os liberais entendem necessária a filantropia revisitada, a ação humanitária, o dever moral de assistir aos pobres, desde que esse não se transforme em direito ou em políticas públicas dirigidas à justiça e à igualdade”. (p. 36)
“As seqüelas na questão social expressas na pobreza, na exclusão e na subalternidade de grande parte dos brasileiros, tornam-se alvo de ações solidárias e da filantropia revisitada”. (Idem)
“A despolitização, que ao lado da destituição do caráter público dos direitos dos pobres e dos excluídos em nossa sociedade está na base do atual sucateamento dos serviços públicos, da desqualificação de políticas sociais, da destituição dos direitos trabalhistas e sociais e da privatização e refilantropização na abordagem da questão social”. (Idem)
Hoje, busca-se um modelo de Estado que reduz suas intervenções no campo social e que apela à solidariedade social.
“Aparece com força a defesa de alternativas privatistas para a questão social, envolvendo a família, as organizações sociais e a comunidade. Esta defesa é legitimada pelo renascimento dos ideais liberais que referendam a desigualdade”. (p. 37)
“Difícil é a passagem de nossa compreensão teórico-metodológica, totalizante e ontológica da vida social, das relações sociais, da questão social, para a compreensão desse homem com que nos deparamos na vida de todo dia nas mais diversas situações”. (p. 38/39)