Será
que existe um caminho seguro para a ciência trilhar? Ora, é possível que
exista, mas para isso será necessário abandonar a possibilidade de parar diante
de uma permanência ou de uma inseparabilidade do objeto em questão, ou em caso
de dúvidas voltar para o princípio e mudar os rumos, ou ainda se não houver
partilha do objeto comum com os diversos colaboradores. Então, para que seja
encontrado um caminho seguro se deve trabalhar com a razão e abandonar as
coisas sem conteúdo (vãs). A ciência deve conter essencialmente o fator razão,
com um conhecimento a priori e este
conhecimento racional pode relacionar-se com o seu objeto ou de maneira a
determiná-lo, simplesmente, ou um pouco mais além a ponto de realizá-lo.
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Há
muito tempo a Lógica veio trilhando esse caminho seguro e é notável que ela
sequer deu um passo adiante, porém os indícios sempre a julgam acabada e
concluída. Alguns modernos quiseram lhe ampliar com elementos psicológicos,
metafísicos e antropológicos, entretanto isso não ampliou, mas desfigurou seus
limites. A Lógica está com suas fronteiras rigorosamente estabelecidas, é só
observar que ela apenas expõe, pormenorizadamente e provam rigorosamente as
regras formais de todo o pensar. A Lógica nada mais é do que algo anterior à
ciência, uma espécie de base.
Atendendo a outras formas de conhecimento, que vão além dos conhecimentos propiciados pela razão, temos a Matemática e a Física, com seus conhecimentos teórico-racionais, determinando seus objetos de estudo também de forma apriorística, inteiramente puros.
As
primeiras apresentações Matemáticas talvez tenham sido os elementos mínimos das
demonstrações geométricas e o triângulo isósceles, isso segundo o que diz
Diógenes Laércio. A Matemática surgiu, provavelmente, entre os egípcios; depois
apareceu entre o admirável povo grego, já seguindo o seguro caminho da ciência.
Foi
com o engenhoso Bacon de Verulam, há aproximadamente um século e meio, que a
Ciência da Natureza obteve ações efetivas; é claro que ela já vinha há tempos
buscando a estrada real da ciência, só que vergonhosamente. Essa posição real
da Ciência da Natureza aconteceu também graças a Galileu, a Torricelli e mais
tarde a Stahl. A Ciência da Natureza deve, portanto, agir, impor, induzir a
natureza a ceder as respostas que precisa. E assim também a Física se firmou no campo das
ciências procurando na natureza o que a razão ali depositou e, a partir dali,
aprender.
Foi
graças a revoluções repentinas que não só a Matemática como a Ciência da
Natureza estabeleceram suas importâncias e na analogia com a Metafísica nos
passam até hoje a ideia de que todo o nosso conhecimento deve acomodar-se ao
objeto, porém, tudo o que foi feito para apurar algo a priori sobre tais objetos não vingou; é mais viável, então,
entender e buscar os objetos do nosso conhecimento, ou depois da experiência, sendo
que esta última é mais eficaz, pois a experiência é um modo de conhecimento que
pressupõe entendimento, pois, antes que qualquer objeto nos dê a priori a sua face, já temos em nós as
regras do entendimento.
A priori é limitada e não
nos faz transcender o limite da experiência possível, daí termos as coisas
apenas como fenômenos, pois mesmo sabendo a validade de suas realidades ainda
se apresentam desconhecidas. O que Kant chama de incondicionado nos induz a ultrapassar os limites da experiência e
de todos os fenômenos; ele não se encontra nas coisas como elas são, pois essas
coisas se conformam com o nosso modo de representação e o incondicionado não, ele está nas coisas enquanto não as conhecemos.
A
razão especulativa recusou todo o progresso de domínio que detinha o Supra-sensível, esta razão bem que
poderia deixá-lo vazio, mas nada impede de preenchê-lo a medida do possível,
com dados práticos. A Crítica da Razão Pura consiste na tentativa de
transformar o método até então usado pela Metafísica, fazendo-o passar por uma
total revolução. Ela é uma unidade à parte, suficientemente pessoal, que possui
várias funções, agindo individualmente e ao mesmo tempo em conjunto, sendo que
cada princípio é rigorosamente examinado. A Crítica da Razão Pura deve ser privilégio do
filósofo especulativo, sendo ele o detentor dela, não devendo, em hipótese
alguma, tornar-se popular, pois o povo costuma somente entender argumentos
engenhosamente traçados como teias e fazer interpretações aparentes, empíricas
da realidade em questão.
Numa
rápida e superficial olhada na Crítica da Razão Pura é possível se detectar os
pontos positivos e os negativos. O ponto negativo é aquele que nos chama a
atenção quanto a limitação, a respeito de um conhecimento através da razão
especulativa. A positividade é que nos damos conta de que a razão especulativa,
ao ousar ultrapassar os limites, consegue não uma extensão, mas apenas uma
coarctação do uso da nossa razão. A Crítica da Razão Pura ultrapassa os dados
sensíveis, sem o auxílio da razão especulativa, portanto, é ilógico negar a
importância da Crítica, e é a parte analítica desta crítica que vai provar a
impossibilidade de conhecer objetos como coisas, mas sim como fenômenos. É bom
também lembrar que para se conhecer algo é necessário, de princípio, ao menos
pensar este algo (objeto).
Não
dá para se conhecer a liberdade pela razão especulativa e muito menos pelo dado
sensível, entretanto é possível pensar a liberdade no sentido mais estrito;
pode-se admitir a liberdade como sendo a moral, porém a razão contradiz a
liberdade e a moralidade, devendo então, substituí-las pelo mecanismo da
natureza. Para a moral basta que a liberdade seja pensada e penetrada a fundo
sem oposição de obstáculo quanto ao mecanismo natural.
A
Filosofia é uma importante aliada da Metafísica, e nestas condições ela deve
ser muito cuidadosa, no que diz respeito à Dialética da Razão que é natural à
Metafísica. Ela deve, portanto, resguardá-la definitivamente de todas as
influências que causem dano ou que levem ao erro.
A
Crítica vem para impedir que se façam conclusões incompletas, que se
falsifiquem doutrinas por não se encontrarem respostas convincentes, ou melhor,
satisfatórias. “Só a Crítica permite cortar o mal pela raiz”.
“A
Crítica é a propedêutica, provisória e necessária, para a promoção de uma
Metafísica completamente sólida como ciência que, deverá ser elaborada em forma
dogmática e conforme as exigências mais rigorosas da sistemática, em moldes
escolásticos, sem a influência popular, pois a sua tarefa será inteiramente a priori”.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
KANT,
Immanuel. Textos Seletos. Vozes:
Petrópolis, 1974.
JaloNunes.