Origem da ordem:
"O movimento eremítico
inspirado em S. Jerónimo surgiu em Itália no século XIV, dando origem a várias
famílias religiosas (...)".
"O fato inseriu-se num movimento de explosão da vida eremítica, ao
qual não foram alheias as conturbações sociais e religiosas da época. Com a
morte do mestre italiano, vários dos seus seguidores foram para a Península
Ibérica onde, em contato com núcleos de eremitas espanhóis, fundaram a Ordem
hieronimita. Um dos discípulos de Tommasucio que tinha ido para Espanha era
Vasco Martins. Natural de Leiria, regressou a Portugal e, a 1º de Abril de 1400,
obteve do Papa Bonifácio IX, com a Bula Piis
Votis Fidelium, autorização para a construção de dois mosteiros -
Penhalonga, em Sintra, e Mato, em Alenquer. Realizava-se assim o desejo e
necessidade que se vinha sentindo nos meios eremíticos de trocar a vida
desabrigada e sujeita a diversas contingências pela vida conventual. Outros
conventos foram posteriormente fundados: S. Marcos (1451), no termo de Coimbra,
e Nossa Senhora do Espinheiro (1457), próximo de Évora".
"No reinado de D. Manuel
I, a Ordem, que sempre se caracterizou pela sua ligação e serviço à monarquia,
conheceu um grande incremento. O monarca tinha a intenção de erguer doze
conventos Jerónimos, obtendo o beneplácito papal, mas tal não se concretizou
totalmente. Fundaram-se então, na primeira metade do século XVI, os mosteiros
de Santa Maria de Belém (Lisboa), Nossa Senhora da Pena (Sintra), Berlengas
(Peniche), o qual, por razões de segurança foi substituído pelo de Valbenfeito
(Óbidos) Santa Marinha da Costa (Guimarães) e um Colégio Universitário
(Coimbra). Um Provincial - autoridade a quem os monges deviam obediência -
presidia à Ordem cuja sede, em Portugal, foi inicialmente o mosteiro da Penha
longa e depois o de Belém".
Durante o período da ocupação espanhola
(1580-1640), os mosteiros portugueses perderam a autonomia, mas logo a
recuperaram com a restauração da independência do Reino em 1640.
"Os monges Jerónimos
adotaram um hábito branco, sobre o qual envergavam o escapulário castanho.
Seguiam a Regra de Santo Agostinho, baseando-se num conjunto de princípios
sobre a vida da comunidade e, para os aspectos concretos, regiam-se por umas
Constituições e Estatutos. Assim, fazia parte do quotidiano dos monges a oração
litúrgica e a individual, distribuídas pelas várias horas do dia, bem como a
frequência dos sacramentos, os jejuns e abstinências da carne, as penitências,
o silêncio e o recolhimento, a leitura, o estudo da gramática, da moral e da
música sacra. Proibidos de "carpentejar", ou seja, de trabalhar com
as mãos para obter daí algum rendimento, os monges Jerónimos constituíam uma
ordem contemplativa, com um pendor fortemente humanista e um elevado grau de
cultura, como o atestam as livrarias dos respectivos mosteiros".
O Mosteiro de
Sta. Maria de Belém:
"A devoção e o especial
interesse que o Rei tinha pela Ordem de S. Jerónimo ficaram a dever-se à natureza
da espiritualidade contemplativa da própria Ordem, à sua inovação na vida
religiosa e ao estatuto que já possuía em Espanha. A Ordem teve sempre enorme
devoção por parte da realeza pois, para além dos seus "bons e exemplares
costumes", enquadrava-se no tipo de religiosidade do Rei e nos seus
objectivos políticos para a Península Ibérica. Por isso, escolheu-a para ocupar
o Mosteiro onde ele próprio seria sepultado e que veio a servir de panteão ao
ramo dinástico Avis-Beja por ele iniciado".
"O Mosteiro dos Jerónimos
foi doado aos monges Jerónimos que ficavam perpetuamente obrigados a celebrar
uma missa diária pelas almas do Infante D. Henrique, de El-Rei D. Manuel I e
dos seus sucessores. Havia, assim, uma ligação privilegiada entre o Rei e a
comunidade monástica: o primeiro protegia-a e esta encarregar-se-ia de
glorificar e perpetuar a sua memória e a dos feitos grandiosos dos portugueses.
Atender em confissão e prestar assistência espiritual aos marinheiros e
navegadores que da praia de Belém partiam à descoberta de outros mundos eram,
também, suas regulares funções".
"Com o advento do
liberalismo, em 1833, foi decretada a extinção das ordens religiosas em
Portugal. A comunidade dos monges foi dissolvida, desocupando este lugar onde
tinha permanecido durante quase quatro séculos. O Mosteiro dos Jerónimos foi
integrado nos bens do Estado e o espaço conventual destinado a colégio até
1940".
Séc. XVI:
"Data de 1496 o pedido feito pelo rei D. Manuel I à
Santa Sé, no sentido de lhe ser concedida autorização para se erigir um grande
mosteiro à entrada de Lisboa, perto das margens do Tejo".
"Uma das razões da construção prende-se, por certo,
com a vontade do monarca reunir em panteão o ramo dinástico por ele iniciado
(Avis-Beja). A dedicação do Mosteiro à Virgem de Belém foi outro factor que
pesou na decisão régia".
"O Mosteiro dos Jerónimos, veio substituir a igreja
outrora existente no mesmo local, cuja invocação era Santa Maria de Belém e
onde os monges da Ordem de Cristo prestavam assistência aos mareantes em
trânsito".
"Em 1501 começaram os trabalhos e aproximadamente um
século depois, as obras estavam concluídas. D. Manuel I canalizava para as
obras de Belém grandes somas. Boa parte da chamada " Vintena da
Pimenta" (aproximadamente 5% das receitas provenientes do comércio com a
África e o Oriente, o equivalente a 70 kg de ouro por ano) servia para custear
os trabalhos que, desde o início, decorrem em estreita dependência do próprio
rei".
"O edifício do Mosteiro dos Jerónimos exibe uma
extensa fachada de mais de trezentos metros, obedecendo a um princípio de
horizontalidade que lhe confere uma fisionomia calma e repousante. Foi
construído em calcário de lioz que se retirava muito próximo do local de
implantação, na Ajuda, no Vale de Alcântara, Laveiras, Rio Seco e Tercena".
"Dada a grandiosidade do projecto e a riqueza da
execução, sucederam-se as empreitadas de construção e os mestres responsáveis
por elas: Diogo de Boitaca (c.1460-1528), João de Castilho (c.1475-1552), Diogo
de Torralva (c. 1500-1566), Jerónimo de Ruão (1530-1601) são alguns dos nomes
que o Mosteiro recorda e que deixaram marca indelével neste monumento. O
Mosteiro dos Jerónimos é habitualmente apontado como a "jóia" da
arquitectura manuelina, que integra elementos arquitectónicos do gótico final e
do renascimento, associando-lhe uma simbologia régia, cristológica e
naturalista, que a torna única e digna de admiração.
Para ocupar o Mosteiro, D. Manuel I escolheu os
monges da Ordem de S. Jerónimo, que teriam como funções, entre outras, rezar
pela alma do rei e prestar assistência espiritual aos mareantes e navegadores
que da praia do Restelo partiam à descoberta de outros mundos. Durante quatro
séculos essa comunidade religiosa habitou nestes espaços, mas em 1833 foi
dissolvida e o lugar desocupado".
"Desde sempre intimamente ligado à casa Real
Portuguesa, o Mosteiro dos Jerónimos, pela força da Ordem e suas ligações a
Espanha, pela produção intelectual dos seus monges, pelo facto de estar
inevitavelmente ligado à epopeia dos Descobrimentos e, inclusivamente, pela sua
localização geográfica, na capital, à entrada do porto, é desde cedo
interiorizado como um dos símbolos da nação".
(...)
Séc. XIX:
"Em 1833, por decreto de
28 de Dezembro o Estado seculariza o Mosteiro dos Jerónimos e entrega-o à Real
Casa Pia de Lisboa, instituição de acolhimento de órfãos, mendigos, e de
desfavorecidos. A Igreja passa a servir de igreja paroquial da nova freguesia
de Belém. Perde-se grande parte do seu valioso recheio".
"A partir de 1860
iniciam-se as obras de remodelação do Mosteiro com o levantamento e desenho da
fachada sul do Mosteiro pelo arquitecto Rafael Silva e Castro, copiado em 1898
pelo arquitecto Domingos Parente da Silva. É demolido o tanque do claustro, os
tabiques das galerias e a cozinha do Mosteiro. Na mesma data o arquitecto J.
Colson elabora três projectos para a reconstrução do Mosteiro que não são
aprovados. O último introduz já elementos revivalistas neomanuelinos. Em 1863,
é nomeado o arquitecto de obras do Mosteiro Valentim José Correia que trabalha
sob a alçada directa do Provedor da Casa Pia, Eugénio de Almeida. Entre 1863 e
1865 reorganiza-se o andar superior do antigo dormitório e desenham-se as
janelas. A partir desta data Valentim José Correia é substituído por Samuel
Barret que vai construir os torreões no extremo poente dos antigos dormitórios.
Este, por sua vez, é substituído como arquitecto das obras do Mosteiro, em
1867, pelos cenógrafos italianos do teatro de S. Carlos, Rambois e Cinatti".
"Entre 1867 e 1878 estes
cenógrafos vão reformular profundamente o anexo e a fachada da igreja, dando ao
monumento o aspecto que conhecemos hoje. Vão, assim, demolir a galilé e a sala
dos reis, construir os torreões do lado nascente do dormitório, a rosácea do
coro-alto e substituir a cobertura piramidal da torre sineira por uma cobertura
mitrada. Estas obras sofrem um contratempo quando, em 1878, se dá a derrocada
do corpo central do dormitório. A partir 1884, entra em campo o Eng. Raymundo
Valladas que em 1886 inicia o restauro do Claustro e da Sala da Capítulo, com a
construção da respectiva abóbada. Nessa sala é colocado, em 1888, o túmulo de
Alexandre Herculano cuja autoria é de Eduardo Augusto da Silva".
"Para celebrar o IV
Centenário da chegada de Vasco da Gama à Índia (1898), decide-se em 1894
concluir as obras de restauro. Os túmulos de Vasco da Gama e Luís de Camões, da
autoria do escultor Costa Mota, são colocados na capela lateral sul. No ano
seguinte o Mosteiro recebe os restos mortais do poeta João de Deus".
"Posteriormente, instalam-se também os túmulos de algumas figuras da literatura
e política: Almeida Garret (1902), Sidónio Pais (1918), Guerra Junqueiro (1923)
e Teófilo Braga (1924)".
"O Ministério das Obras
Públicas abre concurso para concluir o anexo que passa a servir de Museu
Nacional da Indústria e Comércio, mas que acaba por ser extinto, em 1899, sendo
substituído, por decreto de 20 de Novembro de 1900, pelas colecções do Museu
Etnológico Português".
Séc. XX:
"Entre 1903 e 1906 são
renovados os espaços do antigo Museu Industrial para a Instalação do Museu
Etnológico Português, fundado em 1903, e finalmente o ano de 1907 vai trazer
para o Mosteiro dos Jerónimos o título de Monumento Nacional".
"A partir de 1908, vão-se
realizar uma série de obras no Mosteiro, com a conclusão do corpo central do
anexo, segundo um projecto antigo de Parente da Silva, de 1895, agora simplificado,
e o restauro do cadeiral em 1924 pelo escultor Costa Mota. Em 1938 dá-se o
corte do cadeiral e desmantelamento dos órgãos do Coro-Alto, ao mesmo tempo que
são colocados a série de vitrais da fachada sul (cartão de Abel Manta, execução
de Ricardo Leone)".
"Por ocasião das
comemorações dos Centenários da Pátria, em 1939, são realizados restauros no
Mosteiro e na Torre. É desmantelado o baldaquino do túmulo de Alexandre
Herculano e o pátio do claustro é pavimentado".
"O ano de 1940 é marcado
pela “Exposição do Mundo Português”, em que é reorganizado o espaço em frente
ao monumento. A Casa Pia abandona a zona claustral do Mosteiro e os túmulos de
Camões e Vasco da Gama são transferidos do cruzeiro para o sub-coro. No ano
seguinte é reconstruída a galilé da portaria".
"A série de vitrais do
cruzeiro (cartão de Rebocho, execução de Alves Mendes) é realizada em 1950. Em
1951 são depositados, na Sala do Capítulo, os restos mortais do presidente
Carmona que, em 1966, vai ser trasladado para o Panteão Nacional, juntamente
com os túmulos dos antigos presidentes e literatos que se encontravam na mesma
sala".
"O Museu da Marinha,
criado em 1909, e o Planetário Calouste Gulbenkian vão-se instalar em 1962 nos
edifícios anexos ao Mosteiro".
"1983 é o ano da
classificação pela UNESCO do Mosteiro como Património Mundial. É também o ano
“XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura”.
"A assinatura do tratado
de adesão de Portugal à CEE vai ter lugar em 1985, no Claustro deste monumento.
É colocado no centro do Claustro um lago vindo do Palácio de Queluz".
"Duas grandes exposições
vão marcar os anos noventa no Mosteiro: a exposição “4 séculos de pintura” em
1992 e, em 1998, a exposição 'Leonardo da Vinci – um homem à escala do mundo,
um Mundo à escala do homem', em que o Codex de Leicester, cedido
temporariamente por Bill Gates, é apresentado em Portugal".
"O final do século traz
consigo importantes obras de limpeza, conservação e restauro, na Capela-mor em
1999 e entre 1998-2002 no claustro[1]".
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