DESCANSO PARA LOUCURA: Conto: Os Dois Últimos Cisnes Brancos

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Conto: Os Dois Últimos Cisnes Brancos



Imagem copiada.
Conto premiado no Concurso Prosa e Verso Luiz B. Torres/2005, cuja colocação foi 2º Lugar. Âmbito Municipal–Cidade de Palmeira dos Índios/AL.



No alto de uma montanha, existia uma bela floresta: cheia de árvores e animais variados. Dentre as árvores a que mais se destacava era o Ipê Amarelo, por causa do seu tamanho e pela sua beleza, principalmente na época de flores, na aclamada primavera. Porém, em termos de animais aquela mata era considerada pobre, pois possuía apenas animais pequenos como: besouros, insetos, borboletas, aracnídeos, animais de peçonha e outros, enfim bichos que não a embelezavam muito, do ponto de vista superficial, aparente... Vale lembrar que muitas coisas que parecem insignificantes, podem ser na essência, de grande valia e importância.
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Todavia, lá também existia um animal bastante feroz, era um lobo que se chamava Meru-Negro, aquele terrível animal alimentava-se de todas as formas de vida capazes de enriquecer a fauna e a flora daquele lugar; mas lá existia também uma criatura muito dócil e amante da natureza, um belo elemento natural e de aparência humana; na verdade, uma deusa que lutava contra o implacável Meru-Negro; lutava com a força de amor, uma pureza que ela carregava, por todo aquele lugar. A doce Melia era uma criatura necessária, pois procurava estabelecer a paz naquele pedaço de chão terrestre. Hoje em dia são inúmeros os monstros e lobos que consomem seus próximos, para os quais a semelhança é motivo de ameaça. 
Borboleta 'transparente'.
Melia já estava acostumada a lutar contra o terrível animal e resistir a todas as suas armações, que tentava destruir tudo, de uma vez por todas. 
Certo dia ela estava sentada sobre um dos galhos do Ipê Amarelo, que era a árvore que ela mais gostava e justamente estava ele na época de flores: estava repleto de beleza! Logo próximo da árvore existia um belo lago de águas cristalinas, que refletiam a luz do sol. Devido ela estar mais uma vez distraída, admirando todas as belezas, foi surpreendida com uma aparição de Meru-Negro, numa rapidez enorme, tanto quanto uma tempestade de raios.  Melia logo ficou assustada, sabia que viria armação por trás daquele aparecimento, então, a deusa ficou de pé sobre o galho que lhe sustentava, abriu bem suas frágeis asas que mais pareciam de borboletas e segurou com muita firmeza o seu bastão que possuía uma incrível pedra rústica, fixada na ponta. Melia estava preparada, então, para qualquer ação do obcecado animal.


-O que queres desta vez? Perguntou a deusa e acrescentou. -Sei que só apareces para me ameaçar, a não ser a noite quando sais para destruir tudo que aqui existe!


Meru-Negro respondeu com muito cinismo, ironia e maldade:-Só vim para dizer que seu fim está próximo, logo logo acabarei com tudo!


-Nunca, enquanto eu for viva nada será dominado e aniquilado por ti! Exclamou Melia, injustiçada com aquelas circunstâncias.


E o feroz animal concluiu:

-Enquanto for viva “doce criatura", ah! ah!... E sumiu num redemoinho áspero; a varrer tudo!


Então ela ficou a pensar, tinha que elaborar um plano para se livrar de mais uma maldade do lobo assassino, o plano teria que ser muito bom, pois percebeu que daquela vez ele estava mais confiante e decidido, além de conter mais maldade em seus propósitos e ações! Os humanos devem elaborar planos, pois eles são essenciais para uma vida planejada, sem grandes decepções, portanto, é necessário firmar os pés no chão e apoiá-los em planos, mesmo que aparentemente distantes da realidade, pois quase tudo é possível para a capacidade humana; mas - nós humanos - precisamos refletir sobre as causas que nossos planos (ao serem realizados) poderão causar aos outros.

Melia saiu voando sobre a floresta, conversando consigo mesma, com os animais e com as árvores, já que todos se conheciam muito bem e ela estava em busca de inspiração para a elaboração de seu plano, que não poderia ser igual aos outros, pois aqueles eram mais do que conhecidos por seu oponente maior. Em certas horas deve-se abandonar a luta armada e imperdoável, dar uma trégua ao derramamento de sangue e daí estudarem-se novas possibilidades para vencer sem muito alarde.

Dois Cisnes a voar.
-Pronto! Este é o plano! Afirmou ela e continuou pensando em voz alta:-Farei a seguinte mágica com o meu bastão: todas as vezes que Meru-Negro vier me pegar e pegar os animais de minha floresta, ficarei bem menor, do tamanho de uma simples borboleta, então ele não me achará e eu defenderei melhor reste lugar. E com outra mágica, colocarei sobre esta mata um casal de Cisnes Brancos para trazerem mais beleza e alegria, que é o que Meru-Negro mais teme!

E fez o que realmente atinou: com um pensamento concentrado e um movimento ensaiado com o bastão transformou flores do Ipê Amelo em Cisnes, dois lindos cisnes que imediatamente voaram sobre os céus da montanha e pousaram nas águas limpas do lago cristalino. A Beleza é mestra na arte de reproduzir belezas espetaculares, portanto, não espere horrores da verdadeira beleza, assim você estaria negando uma essência humana, a exclusividade.


-Que lindas!  Disse ela, admirada com a exuberância das aves.


Melia avistava a partir do Ipê Amarelo, que era a árvore mais alta, quando o lobo saia da sua caverna fria e sem vida, que ficava entre plantas secas e espinhosas, num pedaço remoto da mata. 
Então, passou a diminuir de tamanho através de sua magia e ia ao encontro dos Cisnes, sabia que quando ele não a encontrasse tentaria devorar as aves. Meru-Negro usava todos os seus instintos maléficos e toda sua esperteza, mas não encontrava Melia, ficava muito irritado e ia de encontro aos Cisnes, somente para devorá-los. Ao aproximar-se era atingido com um forte raio vermelho que lhe mandava de volta para sua tenebrosa caverna. É certo que o infeliz animal ficava a analisar como acontecia tudo aquilo, mas não conseguia descobrir.

O tempo passava e todas as suas tentativas eram nulas e frustradas, Melia estava se dando bem e a família de Cisnes já estava grande, graças a sua proteção extra. 
Até que certo dia Meru-Negro usou toda sua astúcia e maleficidade para descobrir o segredo da deusa, então fez uma maldade estratégica e perfeita. Através de uma mágica negra ele lançava apenas sua imagem até Melia, enquanto ficava próximo observando o que ela fazia. E tudo aconteceu como planejado, após lançar sua imagem até Melia, ela regrediu e o atacou como de costume, mas ela atacou apenas a imagem dele, pois ele estava atrás das rochas observando tudo. É bom dissimular certas atitudes do inimigo, encará-lo como um desplanejado ou como alguém que quer a qualquer preço a conquista, sendo assim não é aconselhável subestimá-lo nunca, porque a inteligência pertence a todos.

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Descobriu tudo e logo entrou em contato com um de seus aliados na floresta, o Aracnegro, uma aranha grande e muito má, que espalhou muito mais teias, várias teias em pontos estratégicos para capturar a deusa quando ela ficasse pequena. Lembre-se que até os inimigos possuem aliados, o que faz uma pessoa se aliar a outra não é o lado em que o outro se encontra, diante da ética ou da moral, mas necessariamente o que se oferece a ela no preenchimento do seu interesse, desinteressada com os outros.

Tudo aconteceu assim: Meru-Negro saiu da sua caverna, Melia o viu saindo e começou a se preparar, não sabia que iria cair no mais novo e diabólico plano dele. Ficou pequena com sua mágica e desceu muito rápido para proteger a grande quantidade de cisnes brancos que já existia. Num instante trágico e inevitável, caiu nas teias armadas por Aracnegro, não podendo reagir já que seu bastão tombou sobre o chão.  Use elementos que possam lhe ajudar e ferramentas de utilização até permanente, mas nunca esqueça que quem tem o potencial é você, Melia errou, entregou-se ao poder do bastão, não reagir sem que ele estivesse em suas mãos foi um pecado, pois a força está no interior e daí a transportamo-na para os bastões transformadores da nossa vida (os instrumentos, os símbolos, os signos etc.).

Os Cisnes perceberam algo muito estranho, uma voz maldosa e nada interessante espalhava muitas gargalhadas e fortes urros, então voaram e a partir daquele dia ficaram sem rumo, sem cuidados especiais!

Melia foi capturada e presa numa pequena gaiola protegida por trevas dentro da caverna do lobo e ele continuou agindo em nome da destruição. Sem ninguém para impedi-lo a floresta estava ainda mais vulnerável e pouco a pouco ele foi devorando tudo, especialmente os Cisnes, que representavam uma beleza viva e estrategicamente forjada!

Meru-Negro ainda obrigou Melia a usar as poucas forças que lhe restavam para acabar com uma magia, isto é, para que o bastão voltasse ao tamanho normal e ele pudesse encontrá-lo com mais facilidade, pois queria dar-lhe forças maléficas. Existem pessoas que costumam tirar nossas forças como se, com isso, roubassem-na e ficassem assim satisfeitas, para essas é necessário apenas dizer-lhes que a fonte das forças humanas, além de sobrenatural é intrínseca, particular e quando se quer existem forças até para doar sem que sejam requisitadas, apenas em cumprimento a humanidade, a solidariedade e a amizade.

Naquela altura existia apenas um casal de cisnes. Aqueles Cisnes perceberam a agonia do lobo para achar o bastão da deusa, daí resolveram procurar também, “pensavam” em libertá-la. Como podiam voar não demorou muito para encontrá-lo; após isso o esconderam em um lugar seguro, no alto do Ipê Amarelo e tomaram cuidado na noite que seguiu para não serem mortos por Meru-Negro.

Ao amanhecer, esperaram que o lobo retornasse ao centro da floresta, pois a caverna ficaria apenas com Melia e eles poderiam agir com mais calma. A vontade de ajudar aos outros é voluntária, é uma atitude descompromissada e desinteressada, visando apenas ao bem comum; sobrevoaram em direção a caverna, o lobo já estava na floresta; um dos Cisnes levava o bastão no bico.

Melia viu os Dois Últimos Cisnes "Brancos" voando sobre a caverna; ela estava muito fraca, mas conseguiu ficar de pé. Um dos Cisnes deu mais uma volta enquanto o outro vigiava se o lobo não vinha. Parceria: eis uma palavra potencialmente de atitude coerente e essencialmente necessária para a vida boa entre seres humanos, seja onde for, a parceria é a representação do homem como ser comunitário e solidário.

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A caverna possuía uma abertura na parte superior e foi por lá que um dos Cisnes soltou o bastão, que caiu direto nas mãos de Melia. Após pegá-lo, agradeceu aos Cisnes, seus amigos, e libertou-se da gaiola e da caverna. A libertação não é necessariamente deste tipo, uma pessoa pode estar na carceragem e sentir-se livre no que diz respeito à capacidade de articular pensamentos e produzir tudo que o cérebro oferece acompanhado de sensações atribuídas, por muitos, ao coração...
A partir daquele momento ela passou a reunir forças para travar uma luta final com Meru-Negro, que estava destruindo tudo com seu olhar sombrio e assustador. Chegada a hora da batalha final, sem que haja planejamento de ambas as partes, fugir da luta significaria entregar-se, esmorecer, então deve-se recordar de suas habilidades e potencialidades e partir para o melhor de tudo, por fim a uma revanche, mesmo sem saber se sairá vencedor. 
A criatura iluminada acolheu muita energia em seu corpo que estava cheio de amor; ela estava enaltecida com o gesto das Aves.  A recompensa para quem ajuda é infinita e a gratidão é ainda mais valiosa e sutil, pode transformar a alma de um ser humano desprovido de coisas tão essenciais, tornando-o um ser cheio de amor para espalhar, contagiando e difundindo profecias e atitudes plausíveis e verdadeiras.

O terrível animal sentiu uma vibração muito forte de energia boa vinda da caverna, dirigiu-se para lá, rápido como a luz sem que fosse instrumento dela; percebeu a presença dos Dois Últimos Cisnes e entendeu que Melia havia sido libertada dos seus laços medonhos, por isso foi disposto a matá-la!

A criatura bondosa estava com uma beleza radiante que surpreendeu o medonho animal, mas também ela foi surpreendida com um raio turvo que saiu dos olhos do lobo, que ardia em brasas e quase a atingiu, chocou-se com a caverna e a destruiu totalmente.

Uma grande energia saia do corpo de Melia e se reunia na pedra do seu bastão, Meru-Negro ficou paralisado com tamanho poder e tornou-se presa fácil. Um enorme raio foi jogado em direção a ele numa velocidade incrível que não lhe permitiu desvios, sendo atingido e desmanchando-se totalmente em pó de areia, areia que iria a partir do tempo recompor tudo que havia decomposto, areia que foi soprada para longe com o vento que se originava nas asas dos Cisnes, que pousavam para se juntarem a Melia. A vitória é digna para aqueles que lutam por objetivos justos e não desmerecem em nenhum momento o adversário, mesmo sabendo que o bem poderá vencer sempre.

A partir dali ela retomou suas tarefas de cuidar da natureza e em pouco tempo tudo estava quase recuperado, os Cisnes já eram dezenas novamente, bastantes árvores renasceram e outros animais foram acolhidos, o mal não existia mais (...). A questão é que são poucos os Melia, os Cisnes astutos e ainda assim, alguns que existem são impedidos de exercer tamanhas bondades e préstimos, temendo a própria morte, mas com isso acabam levando inúmeros junto com eles para o caminho do fim prematuro.
Tudo, seja o que for que desejamos alcançar, principalmente se for algo difícil, necessitaremos da ajuda de todos, pois a parceria verdadeira vence todas as barreiras, mas o principal é a luta através do gesto simples do amor, amar sem distinção.
JaloNunes.

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