DESCANSO PARA LOUCURA: Fichamento: A Vida Feliz, de Sêneca.

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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Fichamento: A Vida Feliz, de Sêneca.

 


A VIDA FELIZ, de SÊNECA.

SÊNECA. A Vida Feliz. (trad. Luiz Feracine). Texto Integral. Editora Escala: São Paulo, 2006. (Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal - 43)

INTRODUÇÃO

2. “Enquanto, na primeira parte, o autor de detém na análise criteriosa dos conceitos atinentes aos temas que embasam o estoicismo tais como os de virtude, prevaricação, liberdade, razão, bem, honestidade, sumo-bem e felicidade, na segunda parte, vem à tona, o empenho defensivo de quem, ao rechaçar imputações melindrosas de improbidade, envida todo o seu talento oratório em polir seu nome e sua fama junto ao publico dos admiradores” (p. 19).

4. “O leitor se depara, nos capítulos introdutórios da primeira parte, com uma síntese primorosa dos assuntos enfocados pelo Estoicismo, a saber, a virtude é o bem máximo que almejamos em nosso procedimento; a maioria dos seres humanos ainda não tem noção lúcida acerca do que confere sentido e pode impregnar de encanto a vida; a virtude, conduzida pela razão, equivale à sabedoria que produz a paz interior onde afloram, de contínuo, surtos de alegria que prenunciam o futuro encontro com as divindades, no céu” (p. 20).


I – Análise da Parte I

1. “Na primeira parte do livro A VIDA FELIZ, Sêneca apresenta o conjunto conceitual relativo à essência, à causa e aos efeitos de uma existência, realmente, feliz não na perspectiva dessa ou daquela ideologia ou ‘visão de mundo’ e, sim, sob o enfoque específico da filosofia ético-moral, no plano metafísico que é diverso de qualquer projeção meramente sociológica. Vamos apreciar a concepção que era apregoada pelo estoicismo. Sabemos que para aquela linha de pensamento filosófico, a moralidade do agir humano se pauta pela racionalidade assessorada pelo pensamento livre” (p. 21).

2. “(...) a maldade provém de alguma fraqueza” (p. 22).

3. “(...) Sêneca define a liberdade como capacidade de não ser dominado por desejos ou por impulsos do medo. Tal modo de definir corresponde ao que, mais tarde, no século XIII, Tomás de Aquino chamaria de ‘autodeterminação’” (p. 22).

5. “(...) A vida feliz é o resultado de um espírito livre, elevado, impávido e constante, acima de qualquer temor, paixão, para o qual o único bem é a honestidade e o único mal é a torpeza” (p. 23).

7. “(...) Pode-se dizer que feliz é quem, mediante a razão, não tem nem temores nem paixões” (p. 23).

 

II – Análises da Parte II

3. “(...) Em resposta, Sêneca explica que os filósofos desempenham uma missão didática e sempre útil. Antes do mais, o que deve ser avaliado é sua intenção de educador. Isso prevalece sobre a prática da vida deles” (p. 27).

4.4. Qual posição o “sábio” assume diante do imperador?

“(...) nascemos numa monarquia, aqui, obedecer a Deus é ser livre” (p. 28).

 

PARTE I

 

1.1  QUESTÃO PRELIMINAR: QUE SIGNIIFICA “VIVER FELIZ”?

“De fato, e de tal monta a dificuldade em conseguir vida feliz que, quanto mais alguém, afanosamente, está em seu encalço, posto que tenha errado na escolha do caminho, mais se distancia porque é levado à meta oposta, porquanto a pressa só aumenta a distância que as separa” (p. 31).

 

1.5 A força do mau exemplo

“(...) É que o beneplácito popular é volúvel e, de fato, muda. Aprova-se algo que, logo depois, é desaprovado. Eis o resultado de toda decisão com base no parecer da maioria” (p. 33).

 

2.2 Não dar crédito às aparências

“(...) Eu não olho para a cor das vestes que cobre o corpo. Não acredito em aparências. Tenho um instrumento melhor do que os olhos e mais confiável que me permite distinguir o verdadeiro do falso. O bem da alma quem o descobre é ela mesma” (p. 34).

 

3.1 O bem nos circunda

“Procuremos algo de bom não só na aparência, mas sólido, contínuo e formoso por dentro. Esse é o que vamos expor, trazendo à luz. Não está longe, não. Nós o encontraremos. Basta saber para onde estender as mãos. Por hora estamos como que tateando, em meio à escuridão, tocando em coisas mais vizinhas que afloram ao nosso encontro como apetecíveis” (p. 35).

 

3.4 Vida feliz e beatitude plena

“(...) Aliás, qualquer tipo de perversidade resulta de alguma deficiência” (p. 36).

 

4.2 Várias definições de vida feliz

“Podemos ainda dizer: feliz é o homem para o qual não existe nem bem nem mal e, sim, apenas uma alma boa ou má que, cultiva a honestidade” (p. 37).

 

4.3 Outras modalidades da mesma concepção

“Nada impede afirmar que a vida feliz é o acabamento – performance – de uma alma livre, sobranceira, impávida e firme, a cavaleiro de qualquer temor, no controle total de qualquer paixão, de sorte que o último bem é a dignidade e o único mal é a desonestidade, sendo todo o resto um amontoado de coisas que não tiram nem acrescentam nada à felicidade da vida” (p. 38).

“(...) A propósito, seja vista a nociva escravidão a quem está condenado quem se sujeita, ora ao prazer, ora à dor, já que tanto um como outra configuram os patrões mais déspotas e caprichosos” (p. 39).

 

5.1 A consciência da felicidade

“(...) como pessoa feliz quem, graças à razão, não está submetido à cupidez nem a temores. Verdade que também as pedras não experimentam medo e tristeza” (p. 39).

 

5.3 Vida feliz e retidão constante

“Feliz, então, a vida fundamentada em juízo reto, certo, estável e imutável” (p. 40).

 

6.1 Trocar o bem pela maldade e loucura

“Ora, tudo isso, se me afigura mesquinhez porquanto preferir o mal ao bem é loucura (...)” (p. 41).

 

6.2 Feliz é quem confia à razão sua conduta

“(...) Feliz é aquele que, satisfeito com sua condição, seja ela qual for, desfruta da mesma (...)” (p. 41).

 

7.2 Não unir o que se contradiz

“(...) Aliás, a virtude, com frequência, está vazia de prazer e nunca dele necessita” (p. 42).

 

7.3 A beleza da virtude

“A virtude é algo de elevado, sublime e nobre, invencível, infatigável. O prazer é coisa baixa, servil, débil, efêmera que tem domicílio em bordeis e nas tabernas. A virtude, ao invés, encontra-se no templo, no foro, na Cúria, na vigilância de nossas muralhas. Ela anda coberta de poeira, queimada de sol e de mãos calosas. Por sua vez, o prazer, com frequência, oculta-se, busca a escuridão que o acoberta, frequenta as piscinas e os balneários de água quente, lugares esses longe dos olhos dos edis. Ele se mostra flácido, desnervado, cheirando a vinho e a perfume, empalidecido, quando não formoseado e embalsamado qual cadáver” (p. 42).

 

7.4 As deficiências estruturais do prazer

“(...) Não pode ser estável que, por natureza, é móvel. (...) Com efeito, já vê o fim, quando começa” (p. 43).

 

8.1 Outra objeção: o prazer é partilhado pelos bons e pelos maus

“(...) Bem por isso os antigos ensinam a seguir a vida melhor e não a mais prazerosa de modo que o prazer seja um aliado e não o guia da vontade digna e reta” (p. 43).

 

8.4 A função diretora da mente

“(...) De fato, também o universo, que tudo abarca tal como o próprio deus – reitor do mundo – ambos se voltam para o exterior, porém sempre retornam para sim mesmos” (p. 44).

 

8.6 O sumo bem e a harmonia da alma

“(...) De fato, preguiça e indecisão denotam contraste e incoerência. Daí poder-se assegurar, sem relutância, que o sumo bem é a harmonia da alma” (p. 45).

“São os vícios que criam discrepâncias” (p. 45).

 

9.2 Não confundir deleite com o agrado do prazer

“(...) Assim também o prazer não é o preço nem a causa da virtude e, sim, um acessório dela. Não é porque deleita que é receptiva, mas, embora deleitando, tem receptividade” (p. 45).

 

9.3 O conceito de sumo bem

“O sumo bem consiste no próprio juízo e na estruturação de uma mente perfeita (...)” (p. 46).

 

10.1 Objeção: vida de prazer implica virtude

“(...) Afirmo, de modo claro e categórico: a vida que eu defino como prazerosa não pode ser outra senão aquela associada à virtude” (p. 46).

 

10.4 Diferença entre as duas posições em conflito

“A temperança ao limitar o prazer é lesiva para o sumo bem. Falando assim, estás privilegiando o prazer. Eu o controlo. Tu fruis do prazer. Eu dele só me sirvo. Tu crês que ele seja o sumo bem. Para mim sequer bem é. Tu fazer tudo por prazer. Eu nada” (p. 47).

 

12.2 Os prazeres do sábio

“Ao contrário, os prazeres dos sábios são sóbrios, comedidos quase que afivelados, sob medida e mal perceptíveis porquanto sobrevêm quase de improviso. Ao se fazerem presentes, não são acolhidos com pompa nem com alegria espalhafatosa por parte de que os recebe. É que o sábio os integra na vida qual peça de jogo ou diversão, ficando, de permeio, a coisas sérias” (p. 50).

 

12.4 O Epicurismo em voga é uma interpretação errônea da doutrina genuína de Epicuro

“Não é Epicuro quem os incentiva a serem dissolutos” (p. 50).

“Não levem em apreço quanto era sóbrio e moderado o prazer segundo Epicuro (aliás, isso, por Hércules, é bem o que eu penso), mas apegam-se tão só ao nome dele, esperando encontrar justificativa e cobertura para uma vida devassa e corrupta” (p. 51).

 

13.1 Defesa de Epicuro

“(...) Epicuro deu preceitos nobres e retos e, se vistos mais de perto, até austeros. De fato, o prazer é reduzido a uma dimensão diminuta. Aliás, a mesma regra a qual submetemos a virtude, ele impõe aos prazeres, ou seja, obedecer à natureza. Ocorre que o quanto basta para a natureza é pouco para a luxúria” (p. 51).

 

13.5 A virtude se sobrepõe ao prazer desregrado

“O prazer é nocivo, quando em excesso, mas a virtude está fora do perigo de ser excessiva, porque contém em si mesma a sua medida adequada” (p. 53).

“(...) ficando a virtude na frente e o prazer no seguimento dela, mantendo-se tão perto quanto a sombra de um corpo” (p. 53).

 

14.1 A virtude abra e comanda o desfile da vida

“(...) Aqueles que colocaram o prazer desregrado na dianteira da vida, acabam enfrentando dois problemas: primeiro, a virtude que perdem e, depois, o prazer que os domina, em vez de ser dominado, pois a ausência dele atormenta e, quando abundante, sufoca. Infeliz quem dele se afasta, porém muito mais feliz quem por ele for soterrado” (p. 53).

 

15.3 Defender a sorte é a pior das escravidões

“De fato, se começa a ter necessidade de favor da sorte, então descamba para a pior das escravidões” (p. 55).

 

15.7 A verdadeira liberdade é ser fiel a deus

“(...) Nascemos dentro de uma monarquia, onde obedecer a Deus, é liberdade” (p. 57).

 

16.1 Felicidade plena equivale a imitar Deus nos limites de nossa possibilidade

“Eis a conclusão: a verdadeira felicidade consiste na virtude (...), ela considera como bem só o que está ligado à virtude e mau o que tem conexão com a maldade. Além disso, ordena que sejas inabalável, quer em face do mal, quer junto ao bem de sorte que assim possas imitar Deus dentro dos limites de tua capacidade” (p. 57).

 

16.4 Conclusão: os graus de perfeição ético-moral

“É que enquanto alguns estão algemados e outros jugulados e alguns garroteados, quem galga o altiplano da virtude sente as algemas afrouxadas. Não está ainda livre, mas já preliba a soltura” (p. 58).

 

PARTE II

 

17. Sêneca é acusado de falsário. Ele prega no púlpito da vida o que não vive, na intimidade. Acolhendo, com humildade a crítica, ele responde e faz novos aprofundamentos do tema

17.3 “(...) não sou sábio e para me entregar ao sabor de tua maledicência, acrescento, nem sábio serei” (p. 60).

“(...) A mim me basta que, a cada dia, eu faça uma poda nos meus vícios e exprobre meus erros” (p. 60).

 

18.1 Ressoa a mesma objeção: falas de um modo e vives de outra maneira

“(...) Eis porque falo não de mim e, sim, da vida virtuosa em si” (p. 61).

 

18.2 Lição de humildade e de idealismo ético

“Não será a vossa venenosa maldade a dissuadir-me dos elevados objetivos nem o veneno, que borrifais sobre os outros e que a vós mesmos mata, vai impedir que eu continue a louvar não a vida que levo e, sim, aquela que deveria levar. Também não me impossibilita prestigiar e virtude e segui-la, mesmo que me arrastando e de longe” (p. 61).

 

20.4 A lei do amor solidário

“(...) Não avalio os benefícios pelo número e peso, mas pela estima que tenho por quem os recebe” (p. 64).

“Tudo farei sob o imperativo da consciência sem me submeter à opinião alheira” (p. 64).

 

20.7 Os críticos maldosos temem a luz da verdade

“Gemei e gritai, soltando a língua maldosa contra os bons; escancarei a boca e mordei. Então bem mais rápido quebrarei os vossos dentes sem deixarem marca” (p. 65).

 

23.1 O filósofo não está proibido de ter posses

“O filósofo poderá possuir grandes riquezas desde que não sejam roubadas, manchadas de sangue, fruto de injustiças e lucro sujo” (p. 69).

“São bens limpos porque não existe ninguém que possa reivindica-los, embora não falte quem queira toma-los” (p. 69).

 

23.5 Ser generoso com critério

“(...) Será generosa nas ocasiões certas, pois donativo errado é favor inútil” (p. 70).

 

24.2 Doação é o melhor dos investimentos

“A alguns me limito a oferecer enquanto que para outros tenho que persuadi-los a receber” (p. 71).

“(...) Eu dou para não perder. O que for doado deve ficar num lugar de onde não deve ser reclamado, mas possa ser devolvido” (p. 71).

 

24.3 Onde estiver um ser humano carente, aí impera o preceito da liberdade

“(...) A natureza me manda fazer o bem aos homens, sejam eles escravos ou livres ou assim nascidos ou não” (p. 71).

“Que diferença há, se é uma liberdade legal ou concedida por amizade? Onde há um ser humano, aí, há possibilidade de fazer o bem” (p. 71).

 

24.4 A sabedoria tem seus graus

“Não me podes colocar em choque com meus princípios, quando faço o máximo do meu possível, cuido de melhorar e aspiro a um ideal realmente grandioso. Só depois de ter feito os progressos intentados é que poderias exigir o confronto entre o que falo e o que concretizo” (p. 72).

 

24.5 A fala de quem já alcançou o cume da perfeição moral

“(...) Afirmo que as riquezas não são coisas boas em si mesmas. Se, realmente, fossem, então elas nos tornariam bons. Não consigo definir como coisa boa em si aquilo que integra também a vida de indivíduos maus” (p. 72).

 

25.3 Antes moderar o prazer que aliviar a dor

“Mesmo submergido em tanta desgraça, não irei amaldiçoar um dia sequer a minha vida” (p. 74).

“Que significa tudo isso? Que quer dizer que prefiro moderar o prazer a aliviar a dor!” (p. 74).

 

25.6 Há virtude para cada situação

“Do mesmo modo como o corpo, num declive, deve ser retido e na subida impulsionado assim também há virtudes para a descida e outras para a escalada” (p. 75).

 

25.7 Na pobreza, coragem; na riqueza, cautela

“Assim, na pobreza, devemos usar de virtudes aptas para lutar, com vigor; na riqueza, aquelas mais cautelosas que controlam os movimentos e mantém o equilíbrio” (p. 75).

 

26.3 A riqueza do sábio ninguém consegue roubar

“Qualquer um pode roubar a riqueza do homem sábio, mas não lhe tirar os seus bens verdadeiros, porque ele vive alegre, no presente, e despreocupado com o futuro” (p. 77).

 

26.5 O sábio faz da crítica aos vícios uma missão

“(...) De fato, quem destrói os altares nem sequer aos deuses ofende, mas fica evidente sua má intenção mesmo ali, onde não consegue provocar dano nenhum” (p. 77).

 

27.4 A brevidade da vida já apela para conversão moral

“Vós tendes tempo para andar, por aí, perscrutando os defeitos alheios” (p. 80).

“Estás a ver espinhas nos outros, enquanto tendes o corpo tomado por chagas. Sois como alguém que, devorado pela lepra, ri das manchas ou das verrugas em corpo formoso (...)” (p. 80).

“Por que não olhai para vossos defeitos que vos assaltam, trepidantes pelo lado de fora e devoradores de vossas entranhas” (p. 80).

“As questões humanas (mesmo que não sejais conscientes dessa vossa condição) não estão a ponto de deixar espaço para que deis com a língua nos dentes, ferindo os que são mais dignos do que vós” (p. 80).

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