DESCANSO PARA LOUCURA: Resumo: O Humanismo, de Martin Heidegger

PESQUISE NESTE BLOG

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Resumo: O Humanismo, de Martin Heidegger

O Humanismo, Coleção Os Pensadores, de Martin Heidegger
Imagem copiada de: https://www.dialetico.com.br/2018/10/11/a-vereda-heideggeriana-de-benedito-nunes/

O agir não é apenas a produção de um efeito, mas sobretudo o consumar, ou seja, desdobrar uma coisa até chegar a sua essência. O pensar consuma a relação do ser com a essência do homem, ele age quando é exercido como pensar.

As expressões 'sujeito e objeto' se apoderaram da interpretação da linguagem na forma de Lógica e de Gramática.

O pensar não é apenas o engajamento na ação, o pensar é engajamento, mas através do ente, no sentido do efetivamento real na situação presente. A história do ser sustenta e determina cada situação e condição humana. O pensar não é apenas exatidão artificial (técnico-teórica), mas repousa de modo puro no elemento do ser, deixando imperar algumas de suas múltiplas dimensões.

Para que a palavra Humanismo tenha seu sentido é necessário ao menos ter a intenção de conservar tal palavra. Lembramos que o pensar nada mais é do que o pensar do ser. Ele pertence ao ser e escuta o ser, já o querer é o que faz o ser desdobrar o seu ser em sua proveniência (deixar ser), e quando tem a capacidade de ser, significa que está demonstrando o seu poder, e sua essência repousa no querer, daí o ser tem capacidade de pensar.

A existência privada é simplesmente a negação do que é público, a coisa pública dita sobre a linguagem, ela acolhe o que é compreensível e despreza o que é incompreensível.

O reconhecimento da decomposição da linguagem aconteceu um pouco tarde, ela praticamente afastou-se do seu caminho, isso por consequência da Metafísica Moderna da Subjetividade. A essência da verdade ainda não foi desvelada por nós.

Para que o homem chegue ao caminho mais próximo do ser é preciso reconhecer a opinião pública e a privada. O homem deve escutar o apelo do ser, assim a palavra terá novamente a sua essência e o homem a devolução da habilidade para perceber a verdade do ser.

Humanismo é o meditar, cuidar para que o homem seja humano e para que a humanidade repouse na essência. A essência é manifestada e encontrada quando o homem é "conhecido e reconhecido" (Marx) e é a sociedade que possibilita isto. Podemos constatar o primeiro Humanismo em Roma, proveniente do encontro da Romanidade com a cultura do Helenismo, já o estudo da humanidade decorre da Antiguidade, passando por um Renascimento da Grecidade.

Pelo ângulo que for analisado o Humanismo, sempre se chegará a um ponto: o Humanismo é determinado a partir do ponto de vista de uma interpretação física da natureza, da história, do mundo, do fundamento do mundo, e isto também vale para o Ente em sua totalidade. Todo Humanismo funda-se numa Metafísica que age através de sua essência.

O primeiro Humanismo (romano) e todos os outros que surgiram até o presente fazem óbvia o elemento "essência" mais universal do homem. A Metafísica representa o Ente em seu ser e pensa do ser do Ente, porém não diferenciados; já o homem a Metafísica pensa a partir da sua animalidade, não a partir da sua humanidade.

A conservação da origem da determinação do homem corresponde a ec-sistência (existência). O homem reside na sua ec-sistência, não tornando-a como realidade efetiva. Para Kant a existência é a realidade efetiva no sentido de objetividade da experiência. Para Hegel ela é a ideia de si sobre si mesma, a ideia de subjetividade absoluta. Já para Nietzche ela é o eterno retorno do mesmo.

A ec-sistência é a exposição verdadeira do ser, é a realidade efetiva, pura oposição da possibilidade da ideia.

Para Sartre a existência precede a essência (Princípio do Existencialismo), isso no sentido metafísico, chegando assim no esquecimento da verdade do ser.

Para chegarmos a uma certa dimensão da verdade do ser é preciso tornar claro como o ser se dirige ao homem e como o requisita, primeiro tomamos o homem como uma substância. Mas dizer que o homem é substância metafísica, em Ser e Tempo, significa também falar da humanidade do homem como ser Rationale (Racional), porém citar as determinações humanísticas não é experimentar a dignidade, então, o pensar (em Ser e Tempo), é contra o Humanismo.

Há controvérsias para com o Humanismo porque ele não instaura a humanidade do homem numa posição suficientemente alta.

O homem é "jogado" pelo ser, mesmo na verdade do ser, para que, ec-sistindo guarde a verdade do ser e depois para que a luz do Ente se manifeste como o Ente que efetivamente é. O advento do ente repousa no destino do ser e este último é guardado pelo homem. O ser é mais amplo e mais próximo do homem do que do ente.

O homem tem como morada a linguagem, ec-sistindo enquanto pertence a verdade do ser, daí protegendo-a.

Muitos filósofos levantaram várias teorias sobre o ser, mas está claro que o ser ainda continua impensado, diz-se também em Ser e Tempo.A transcendência do ser como tal é a essência do ser manifestada no homem, já o ente (como foi citado anteriormente) é o sinal do esquecimento do ser, tornando portanto a verdade a verdade do ser impensada e isso acontece porque o homem só considera e só trabalha o ente. Essa troca de ser com ente e vice-versa vem desde a Antiguidade. "O homem é, como a réplica ec-sistente do ser, mais que um animal racional, na proporção em que precisamente é menos na relação com o homem que se compreende a partir da subjetividade". O homem como pastor do ser tem como prêmio o acesso a verdade do ser. Ele faz fronteira com o ser.

O Humanismo pensa a humanidade do homem próximo do ser, usando a essência historial do homem (a ec-sistência do homem). NO âmbito do ser a palavra Humanismo perdeu o seu sentido, veja: a essência do Humanismo é de caráter metafísico e a Metafísica persiste no esquecimento do ser (...). Opor ao Humanismo não significa defender o inumano, mas abrir outras perspectivas.

O Transcendente é o ente supra-sensível, sendo então, o ente supremo no sentido de causa primeira de todos os entes. Deus é pensado como esta causa primeira.

O ser jogou a essência do homem para os seus cuidados, mas deixou uma clareira para que o homem ficasse postado, cuidando desta essência.

O sagrado passa a ser pensado a partir da verdade do ser e depois chegando a luz pode-se finalmente pensar e dizer o que deve nomear a palavra Deus.

Pensar a verdade do ser significa pensar a humanidade do homem, tendo assim, a humanidade a serviço da verdade do ser, porém, o Humanismo, neste caso, não deve ser entendido no sentido metafísico.

Heidegger coloca que é mais interessante não determinar as relações exatas de uma coisa com outra, mas primeiramente perguntar o que são essas coisas (por exemplo na relação entre Ontologia e Ética). Mas, o pensar que questiona a verdade do ser, determinando assim, o lugar essencial do homem, nem é Ética nem Ontologia. Portanto, a relação entre elas não tem mais sucessos neste contexto.

O pensar, porém, nem é teórico nem é prático, é apenas uma lembrança do ser, ele auxilia na construção do ser.

"Mais importante do que qualquer fixação de regras é o homem encontrar o caminho para morar na verdade do ser". É esta habitação que dá sustentação e apoio a experiência. O apoio (que na língua alemã significa proteção) presenteia a verdade do ser, e mesmo que o homem não esteja habitando na morada do ser, ele tem a linguagem como habitáculo.

A simplicidade do ser acaba prejudicando o acesso a sua verdade, assim ele torna-se para nós irreconhecível. 

A única tarefa do pensar é fazer com que a linguagem esteja sempre à espera do homem.

Já é tempo de para um pouco de supervalorizar a Filosofia, na presente indigência do mundo é necessário menos Filosofia e mais desvelo do pensar, menos Literatura e mais cultivo da letra (linguagem).

"O pensamento futuro não é mais Filosofia por que pensa mais originariamente  que a Metafísica, nome que diz o mesmo". O pensar futuro também não pode mais, como exigia Hegel, deixar de lado o nome do "amor pela sabedoria" e nem ter se tornando a sabedoria na forma do saber absoluto. O pensar está na descida para a pobreza de sua essência percursora. O pensar recolhe a linguagem para junto do simples dizer. A linguagem é assim a linguagem do ser. Com o seu dizer o pensar abre sulcos invisíveis na linguagem.


HEIDEGGER, Martin. O Humanismo. São Paulo. Abril Cultural, 1979 (Coleção Os Pensadores). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

SEGUIDORES