Sócrates
compareceu ao Tribunal Ateniense pela primeira vez em 60 a nos de vida, como um
simples cidadão cumpridor de leis, com a finalidade de defender-se de acusações
antigas, porém, agora reforçadas, falácias sem lógica, pois Sócrates tem
consciência da falsidade que seus acusadores apresentam. No Tribunal, ele fala com os presentes de
forma simples e verdadeira como conversa com qualquer outra pessoa que queira
lhe ouvir, seja na Praça ou em qualquer lugar, tendo em mente que caberá ao
Juiz identificar se está ou não falando a verdade.
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Preocupa-se
em defender-se primeiro das acusações antigas, depois das menos maléficas: os
recentes e as recentes calúnias, sabendo também da ameaça das pessoas que lhe
cercam, essas lhes dão falsas qualidades, mostrando ao povo um Sócrates
diferente; pessoas que nem sabem o que dizem de fato. Com todos querendo o seu
mal, só lhe resta defender-se; para isso precisa apresentar verdadeiros
argumentos para apagar tais calúnias. Ser absolvido seria bom, porém a
sociedade ateniense é quem ganharia mais com a sua liberdade. Sócrates é
refutado desde as Comédias de Aristófanes, que lhe atribuía caráter oposto à
realidade, além de Mileto, remoto, porém atual e renovado acusador.
Certa
ciência é responsável por sua reputação. Seu amigo, Querefonte, tendo ido a
Delfos consultou o Oráculo, perguntando-lhe se existia alguém mais sábio que
Sócrates, recebendo a resposta não. Após saber o que o Oráculo havia dito,
Sócrates inicia um trabalho de investigação das pessoas, em especial dos que se
diziam sábios, na esperança de encontrar ao menos um e mostrar que o Deus de
Delfos estava contrariado. Com esses interrogatórios, ele tornava-se odiado
pelos políticos, poetas, artesãos, oradores e demais intitulados de sábios,
pois se fazia entender que nada sabiam. Entendeu então que era sábio porque
reconhecia nada saber e tornou-se um instrumento do Deus, para mostrar ao povo
que a sabedoria humana é desprovida de qualquer valor.
Os
jovens lhe acompanhavam de forma espontânea, às vezes imitavam-lhe, interrogavam
os outros e eram surpreendidos, com isso as pessoas revoltavam-se,
principalmente os pais dos jovens que costumavam ouvir Sócrates.
Não
se preocupava em ser condenado, já que nada perderia, em contrapartida, o povo
de Atenas é quem estaria abrindo mão de uma dádiva oferecida pelo Deus, e seria
muito difícil encontrar outro igual a ele.
Sua
inocência poderia ser provada se analisassem a sua vida, humilde, já que nada
recebia, tudo que fazia era para o bem dos atenienses em nome do Deus.
Se
fosse político nada de bom teria oferecido ao povo e poderia ter morrido há
mais tempo, a morte não importava, o melhor era favorecer a lei e a justiça e,
apesar dos títulos, não se julgava mestre de ninguém, o que falava para um
falava para outro.
Embora
correndo um altíssimo perigo de ser condenado, jamais suplicaria a absolvição,
para ele, suplicar é uma falta de honra para toda a cidade, até porque iria
morrer sendo ou não condenado. Ironicamente não pediria piedade a Zeus, pois
que Mileto também o acusava de
impiedade.
Por
não ter provas verdadeiras contra Sócrates, Mileto tomando as dores dos poetas,
representada por Ânito e as dores dos artesãos e políticos, representadas por
Lincon, além dos oradores, lhe acusava de forma precisa, de corromper os
jovens; além de apresentarem calúnias comuns contra todos os filósofos;
“Sócrates estuda os fenômenos celestes; o que existe debaixo da terra; não crê
nos Deuses da cidade e faz prevalecer a razão mais fraca”. Entretanto, ficaria até surpreso se
conseguisse apagar calúnias tão fortes em tão pouco tempo.
Sócrates
inicia uma série de perguntas a Mileto, na tentativa de mostrar a realidade a
respeito das acusações. Trabalhando com a verdade como de costume, deixa Mileto
sem argumentos concretos sobre o que ele mesmo insistia afirmar; fez sua parte
de mais uma vez driblar as mentiras impostas pelo inimigo, caso morresse
estaria feliz, mesmo porque cumpriu o pedido do Deus. Sem dinheiro, não poderia
pagar multas; viver preso ou sem filosofar, não viveria dignamente; preferindo
morrer, até porque cumpriu a missão de fazer o povo enxergar que a alma é o
mais importante para o ser humano, portanto, deve-se cuidar melhor dela, não do
corpo ou dos bens materiais; e se fosse absolvido, continuaria esse trabalho.
Por
não fazer cenas ridículas e desonrosas estava mais vulnerável a ser condenado,
não surpreso com a condenação. As calúnias foram bastante reforçadas com os
acusadores recentes e os antigos, além do pouco tempo que ele dispôs para se
defender.
Com
ironia e de certa forma com razão, Sócrates sugere a Pritaneu, uma pena, nada
mais justo para quem tentou sempre mostrar o valor da alma, a essência da vida.
Aos
que condenaram estavam matando Sócrates, que estava a serviço do Deus do
Oráculo e o principal responsável pela sua condenação foi não fazer o que
estavam acostumados a ouvir e ver: gemidos, súplicas ou lamentos, pedidos de
perdão e muito mais. E ele ainda acrescenta: “Bem melhor morrer após a defesa
que fiz, do que viver defendendo-me como gostariam”. E a ligeira malvadez dos
que lhe condenaram, será com certeza, rebatida por Zeus; Ele os castigará de
forma ainda mais dura. Disse ainda: “Matando homens não estarão construindo uma
vida boa, a morte não liberta, nem é eficaz, nem é honrosa”.
Aos
que absolveram foram contemplados com o término da conversa de Sócrates,
dizendo que a morte talvez seria nada, ou apenas mudança, imigração da alma,
comparada ao sono. A morte só veio libertá-lo das injustiças do mundo e talvez,
lá no céu poderia até continuar o trabalho de investigar os que se dizem
sábios.
Então,
termina seu ato de defesa, mesmo já condenado a morte com um belo, simples,
consciente e imutável pedido: “Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a
morte, vós para a vida. Quem segue melhor destino, seu eu, se vós, é segredo
para todos, exceto para a Divindade”.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Platão.
Apologia de Sócrates. São Paulo:
Martin Claret, 1999 (Coleção obra prima de cada autor).
JaloNunes.
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