COMENTANDO:
CAPÍTULO TRÊS DE UM TETO TODO SEU
A autora,
Woolf (2004), inicia enfatizando que “as mulheres são mais pobres do que os
homens” (p. 48), por causa de uns ou de outros motivos; percebemos que, quando
neste seu pensamento ela busca expressar (imediatamente) aquilo que Bourdieu
(1999) chama de cultura androcêntrica, uma espécie de maneira social que se
impõe sobre os indivíduos, julgando-os e separando-os mediante uma divisão
sexual do trabalho de produção e de reprodução biológica, concedendo aos homens
primazia seja nas questões de capacidades práticas ou intelectuais.
Disponível em: doidivana.wordpress.com |
Situações de
afastamento das mulheres das ações mais intelectuais e artísticas perduraram,
então, até os idos do século XVIII, de acordo com Woolf, porque não se
encontram em meio aos inúmeros escritos de cunho masculino as contribuições
femininas, concebidas com o mesmo valor atribuído as obras do gênero masculino;
e mesmo que se faça um trabalho nas consciências individuais das mulheres,
tendência exercida por movimentos sociais, por exemplo, não implica numa
mudança de postura da sociedade em relação aos gêneros e o consequente
privilégio de um sobre o outro, porque, de acordo com Bourdieu (1999) a
violência simbólica é exercida de tal maneira que se torna algo natural (é
normal que as capacidades humanas sejam divididas, sendo umas para homens
outras menos importantes para mulheres), pois essa violência simbólica não é
exercida “na lógica pura das consciências cognoscentes, mas através dos
esquemas de percepção, de avaliação e de ação que são constitutivos dos habitus e que fundamentam, aquém das
decisões e das consciências e dos controles da vontade, uma relação de
conhecimento profundamente obscura a ela mesma” (p. 49/50), isto é, há uma
lógica de dominação espontânea e extorquida mantida pela ordem social.
A autora, por
sua vez, chega a dizer que uma mulher talentosa no século XVI, similarmente
como foi Shakespeare, estaria condenada a viver da forma mais terrível
possível, chegando à loucura e ao suicídio, pois não suportaria a
contrariedade, a tortura e a dilaceração de suas potencialidades, somente por
causa de sua condição de gênero feminino. Restavam as mulheres, então, a figura
do masculino para lhe garantir a dignidade humana e de capacidades ou esconder-se
atrás do anonimato, caso quisesse enveredar pelo caminho da produção artístico-literária,
por exemplo; esse pensamento masculino elitizado e dominante que não consegue
esperar nada produzido intelectualmente, advindo das mulheres, perdura – de
acordo com Woolf (2004) até o século XIX, distanciado a mulher não só das
questões artísticas, mas também das questões políticas, porque a sociedade
ainda não é democrática suficientemente para acolher todo e qualquer exposto
sistematizado de produção, independentemente de qual segmento social advém;
torna-se necessário, portanto, conforme Bourdieu (1999) “a transformação
radical das condições sociais de produção das tendências que levam os dominados
a adotar, sobre os dominantes e sobre si mesmos, o próprio ponto de vista dos
dominantes (...) num ato que se efetiva aquém das consciências e da vontade”
(p. 54).
JaloNunes.
Vigínia Woolf. Imagem extraída de: www.themakeupgallery.info |
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
BOURDIEU, Pierre. Uma Imagem Ampliada. In.: A dominação masculina. (tradução: Maria
Helena Kühner) – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. Capítulo 1.
WOOLF, Virgínia. Capítulo Três.
In: Um teto todo seu. (tradução:
Vera Ribeiro) – 2. ed. – Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2004.
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