Capa de uma das edições (2003) do Manifesto contra o Trabalho. |
I - O DOMÍNIO DO TRABALHO MORTO
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“Um cadáver domina a sociedade – o cadáver do
trabalho” (p. 15).
· “A venda da mercadoria força de trabalho será no
século XXI tão promissora quanto à venda de diligências[1] no
século XX” (idem).
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“O trabalho determina o pensar e o agir (psique
e poros)” (p. 16).
· Países que não atenderam as leis do mercado
foram “literalmente” triturados pelo totalitarismo econômico.
II – A SOCIEDADE NEOLIBERAL DO APARTHEID
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“Isso ocorre quando a venda de mercadoria força
de trabalho deixa de ser regra e passa a ser exceção” (p. 19).
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Hoje dar-se mais importância ao como impor a
seleção.
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“Todos os recursos do planeta são usurpados sem
hesitação para a máquina capitalista do fim em si mesmo” (p. 20).
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“O incômodo do ‘lixo humano’, fica por conta da
polícia, da religião e dos sopões para pobres” (idem).
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Esses servem de exemplo para que não se desista
nunca de buscar trabalho.
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“A demanda por serviços pessoais simples, é tanto
maior quanto menos custam” (Comissão para o Futuro dos Estados Livres da
Baviera e da Saxônia Apud Grupo
Krisis, p. 21).
III – O APARTHEID DO NEO-ESTADO SOCIAL
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“Um ser humano sem trabalho não é um ser humano”
(p. 23).
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“O Estado deveria endireitar o que o mercado não
consegue mais” (idem).
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“A simulação estatal de trabalho é, por
princípio, violenta e repressiva” (p. 24).
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Até mesmo os que não trabalham são “arrastados
para os holofotes do interrogatório estatal, por assistentes sociais e
agenciadores de trabalho e são obrigados a prestar reverência perante o trono
do cadáver-rei” (p. 25).
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“Cria-se a legitimação moral para tratar de
maneira mais dura os desempregados e os que recusam trabalho” (p. 26).
IV – O AGRAVAMENTO E O DESMENTIDO DA RELIGIÃO DO TRABALHO
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“Principalmente durante os últimos 150 anos,
todas as teorias sociais e correntes políticas estavam possuídas, por assim
dizer, pela idéia trabalho” (p. 29).
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Há, portanto, um dogma impiedoso que professa
que o trabalho é a determinação natural do homem.
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“Não é nada mais que o princípio social
irracional que aparece como coerção natural por que destruiu, ao longo dos
séculos, todas as outras formas de relação social ou as submete e se impôs como
absoluto” (p. 32).
V – O TRABALHO É UM PRINCÍPIO COERCITIVO SOCIAL
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“Na esfera do trabalho não conta o que se faz,
mas que se faça algo, pois o trabalho é justamente um fim em si mesmo, na
medida em que é suporte da valorização do capital-dinheiro” (p. 35).
VI – TRABALHO E CAPITAL SÃO OS DOIS LADOS DA MESMA MOEDA
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Tanto para o trabalho em si, quanto para o
capitalismo o que importa é o conteúdo da produção.
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“Interessa apenas a possibilidade de vender de
forma otimizada a força de trabalho” (p. 38).
VII – O TRABALHO É DOMÍNIO PATRIARCAL
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“Sem o esforço social cindido nas formas de
atividade ‘femininas’, a sociedade do trabalho nunca poderia ter funcionado”
(p. 42).
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“O patriarcado não é abolido, mas passa por um
asselvajamento na crise inconfessa da sociedade do trabalho” (p. 43/44).
VIII – O TRABALHO É ATIVIDADE DA MENORIDADE
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“Trabalho não é sinônimo de atividade humana
autodeterminada, mas remete a um destino social infeliz” (p. 48).
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Trabalho é a atividade dos que perderam a
liberdade.
IX – A HISTÓRIA SANGRENTA DA IMPOSIÇÃO DO TRABALHO
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“Vários séculos de violência aberta em grande
escala foram precisos para torturar os homens a fim de fazê-los prestar serviço
incondicional ao deus-trabalho” (p. 47).
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A população se desenvolveu basicamente não por
que estava evoluindo e melhorando, mas necessariamente por que se precisava de
material humano para transformar em dinheiro.
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“Direitos antigos, como liberdade de caça, pesca
e coleta de lenha em florestas, foram extintos” (p. 49).
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“O universalismo da sociedade do trabalho já é
totalmente racista desde sua raiz” (p. 50).
X - O MOVIMENTO OPERÁRIO: UM
MOVIMENTO EM PROL DO TRABALHO
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“O movimento operário clássico, que só entrou em
ascensão muito depois do declínio das antigas revoltas sociais, já não lutava
contra as exigências do trabalho; pelo contrário, desenvolveu precisamente uma
hiperidentificação com aquilo que lhe parecia ser inevitável. Interessava-se
apenas por «direitos» e correcções no seio da própria sociedade do trabalho,
cujas coerções já tinha amplamente interiorizado”.
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“Assim, o movimento operário assumiu, à sua
maneira, a herança do absolutismo, do protestantismo e do Iluminismo burguês. A
infelicidade do trabalho foi convertida numa falsificação: o orgulho do
trabalhador, que vinha redefinir em termos de «direito do homem» a
autodomesticação do indivíduo como material humano do ídolo moderno”. (...) “A
burguesia não era combatida enquanto suporte funcional da sociedade do
trabalho, mas, pelo contrário, censurada como parasita, em nome do trabalho”.
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“As desigualdades decorrentes do funcionamento
da máquina da valorização do capital, logo que esta passou a determinar toda a
vida social, tinham que ser reequilibradas pelo Estado social. O movimento
operário encarregou-se também de fornecer o paradigma para este efeito. Sob o
nome de «social-democracia», tornar-se-ia o maior «movimento civil» da
história, que, no entanto, só podia ser a sua própria armadilha”.
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“A democracia da sociedade do trabalho é o
sistema de dominação mais pérfido da história - é um sistema de auto-repressão.
(...) A democracia é o contrário da liberdade”.
XI - A CRISE DO
TRABALHO
Esboço da Crítica da Economia
Política, 1857/1858.
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“(...) No desenvolvimento lógico da
racionalização, a robótica electrónica substitui a energia humana e as novas
tecnologias das comunicações tornam o trabalho humano supérfluo. Desaparecem
por inteiro sectores ou níveis anteriormente existentes na construção, na
produção, no marketing, no armazenamento, na venda e mesmo na gestão.
Pela primeira vez, o ídolo trabalho submete-se involuntariamente a um regime de
racionamento duradouro. E com isso cava a sua própria sepultura”.
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“O capitalismo torna-se uma instituição de
minorias à escala global. No seu desespero, o ídolo trabalho, agonizante,
torna-se o canibal de si próprio. Em busca de sobras de trabalho para se
alimentar, o capital faz estourar as fronteiras da economia nacional e globaliza-se
numa concorrência nómada, em que cada grupo procura desalojar o outro. (...)
Com uma onda de fusões e de «aquisições hostis» sem precedentes históricos, os
cartéis armam-se para a última batalha da economia empresarial. Os Estados e
nações desorganizados implodem, e as populações, empurradas para a loucura pela
luta concorrencial de sobrevivência, digladiam-se na guerra étnica dos bandos.
XII - O FIM DA POLÍTICA
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“A crise do trabalho arrasta consigo
necessariamente a crise do Estado e, portanto, da política. (...) Na sua forma
amadurecida de democracia de massas, no século XX, o Estado teve de assumir, de
forma crescente, encargos de natureza socio-económica: não apenas o sistema de
segurança social, mas também a saúde e a educação, a rede de transportes e de
comunicações, infra-estruturas de todo o tipo que se tornaram indispensáveis
para o funcionamento da sociedade do trabalho, enquanto sociedade industrial
desenvolvida (...)”.
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“(...) Com o desemprego de massas, sempre
crescente, secam as receitas estatais provenientes dos impostos sobre os
rendimentos do trabalho. As redes sociais rompem-se assim que se atinge uma
massa crítica de «supérfluos» que, em termos capitalistas, só podem ser
alimentados através da redistribuição de outros rendimentos financeiros. Na
situação de crise, com o acelerado processo de concentração do capital, que
ultrapassa as fronteiras das economias nacionais, desaparecem também as
receitas fiscais resultantes da tributação dos lucros das empresas”.
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“É precisamente este processo que leva o Estado
democrático a transformar-se em mero administrador da crise. Quanto mais se
aproxima do estado de emergência financeira, mais se reduz ao seu núcleo
repressivo”.
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“Apesar de toda a abundância de conhecimentos,
capacidades e meios da medicina, da educação, da cultura, da infra-estrutura
geral, a lei irracional da sociedade do trabalho, objectivada em termos de
«restrição ao financiamento», fecha-os a sete chaves, desmantela-os e atira-os
para a sucata - exactamente como acontece com os meios de produção agrários e
industriais que deixaram de ser «rentáveis». O Estado democrático, transformado
num sistema de apartheid, nada mais tem para oferecer àqueles que até
agora eram os cidadãos do trabalho do que a simulação repressiva da ocupação em
formas de trabalho barato e coercivo, e o desmantelamento de todas as
prestações sociais”.
XIII - O CAPITALISMO DE
CASINO E O SEU JOGO DE SIMULAÇÃO NA SOCIEDADE DO TRABALHO
Esboço da Crítica da Economia
Política, 1857/58.
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“A consciência social dominante engana-se
sistematicamente a si mesma sobre a verdadeira situação da sociedade do
trabalho. As regiões em colapso são ideologicamente excomungadas, as
estatísticas relativas ao mercado de trabalho são descaradamente falsificadas,
as formas de pauperização são dissimuladas pelos media”.
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“O consumo de trabalho presente é substituído
pelo recurso ao consumo de trabalho futuro, que nunca chegará a realizar-se.
Trata-se, de certo modo, de uma acumulação de capital num fictício «futuro do
conjuntivo»”.
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“(...) Mas a acumulação do capital já não pode
continuar a ser simulada através do endividamento do Estado. E é por isso que,
desde os anos oitenta, a criação complementar de capital fictício se transfere
para os mercados bolsistas. Neles, há muito que não se trata de obter
dividendos, ou seja, a distribuição de lucros da produção real, mas apenas de
obter ganhos de cotação pelo aumento especulativo do valor dos títulos de
propriedade até números de grandeza astronômica”.
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“O ídolo do trabalho está clinicamente morto,
mas recebe respiração artificial através da expansão aparentemente autonomizada
dos mercados financeiros. As empresas industriais obtêm ganhos que já não
resultam da produção e da venda de bens reais (...). Os orçamentos públicos
apresentam receitas que não resultam de impostos ou de empréstimos, mas da
participação zelosa da administração financeira no jogo de azar dos mercados. E
os orçamentos privados, que viram as receitas reais provenientes dos salários e
honorários reduzir-se drasticamente, só conseguem manter um nível elevado de
consumo à custa de ganhos na bolsa (...)”.
XIV - O TRABALHO NÃO PODE SER
REDEFINIDO
Trabalhar e não Desesperar,
1843.
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“Após séculos de domesticação, o homem moderno
já nem consegue imaginar uma vida para além do trabalho”.
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“Mas, fora do escritório ou da fábrica, a sombra
do trabalho estende-se sobre o indivíduo moderno muito para lá desse dever
interiorizado de consumo de mercadorias como finalidade autotélica. Logo que se
levanta do sofá em frente da televisão e começa a agir, qualquer coisa que faça
transforma-se numa espécie de trabalho”.
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“(...) O imperialismo do trabalho traduz-se
portanto na linguagem do dia-a-dia. Não só estamos habituados a empregar
inflacionadamente a palavra «trabalho», como também a usá-la em dois planos de
significação completamente diferentes. Há muito que «trabalho» não significa
apenas (como seria pertinente) a forma de actividade, própria da sociedade
capitalista, dentro da engrenagem da finalidade autotélica; o conceito tornou-se
igualmente sinónimo de qualquer actividade com um objectivo e, desta forma,
apagou o seu rasto”.
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“Esta forma de pensar não visa, portanto, a
emancipação das coerções dominantes, mas apenas uma correcção semântica (...)”.
XV - A CRISE DA LUTA DE
INTERESSES
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“Por muito que a crise fundamental do trabalho
seja recalcada e transformada em assunto tabu, a verdade é que ela marca com o
seu cunho todos os conflitos sociais da actualidade. A passagem de uma
sociedade de integração de massas para uma ordem de selecção e apartheid
não conduziu a uma nova ronda da antiga luta de classes entre o capital e o
trabalho, mas sim a uma crise das categorias da própria luta de interesses
imanente ao sistema”.
·
“(...) Os trabalhadores assalariados desertam
dos sindicatos, os gestores deixam as associações empresariais. Cada um por si,
e o deus sistema capitalista contra todos: a tão invocada individualização não
é senão mais um sintoma da crise da sociedade do trabalho”.
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“(...) A pretensão de utilizar a luta de interesses
imanente ao sistema como alavanca da emancipação social esgota-se
irreversivelmente. E desta maneira, portanto, chega ao fim a esquerda clássica.
O renascer de uma crítica radical do capitalismo pressupõe uma rotura
categorial com o trabalho. Só quando se estabelecer um novo objectivo de
emancipação social num plano situado para lá do trabalho e das categorias
fetichistas dele derivadas (valor, mercadoria, dinheiro, Estado, forma
jurídica, nação, democracia, etc.), é que se tornará possível uma re-solidarização
de nível elevado e à escala de toda a sociedade (...)”.
XVI - A SUPERAÇÃO DO TRABALHO
O Sistema Nacional da Economia
Política, 1845.
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“Apesar da sua dominação absoluta, o trabalho
nunca conseguiu apagar totalmente a revolta contra as suas coerções. A par de
todos os fundamentalismos regressivos e de todos os desvarios da concorrência
no plano da selecção social, existe também um potencial de protesto e
resistência. O mal-estar existe em larga escala dentro do capitalismo, mas é
reprimido para o subsolo socio-psíquico (...)”.
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“Trata-se portanto de esboçar em traços largos
quais os objectivos possíveis para um mundo situado para lá do trabalho. O
programa contra o trabalho não se alimenta de um cânone de princípios
positivos, mas da força da negação”.
·
“(...) Neste processo torna-se também necessário
que a propriedade privada seja atacada de um modo diferente e novo”.
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“Na crise da sociedade do trabalho, quer a
propriedade privada quer a propriedade estatal tornaram-se obsoletas, porque as
duas formas de propriedade pressupõem na mesma medida o processo de valorização
do capital”.
·
“(...) A crítica do trabalho é uma declaração de
guerra contra a ordem dominante; não é uma coexistência pacífica entre alguns
nichos e as coerções da ordem dominante. O lema da emancipação social só pode
ser: tomemos aquilo de que necessitamos! Não nos arrastemos mais de
joelhos sob o jugo dos mercados de trabalho e da administração democrática da
crise! A condição necessária para a realização destes objectivos é o controlo
exercido por novas formas sociais de organização (associações livres,
conselhos) sobre o conjunto das condições sociais da reprodução”.
·
“A ditadura do trabalho cinde o indivíduo
humano. Separa o sujeito económico do cidadão, o animal de trabalho do homem em
férias, a esfera pública abstracta da esfera privada abstracta, a masculinidade
artificial da feminilidade artificial, opondo assim aos indivíduos isolados o
seu próprio contexto social como um poder que lhes é estranho e os domina (...)”.
XVII - UM PROGRAMA
ABOLICIONISTA CONTRA OS AMANTES DO TRABALHO
Manuscritos
EconómicoFilosóficos, 1844
·
“Os adversários do trabalho serão acusados de
não passarem de fantasistas. A história teria comprovado que uma sociedade não
pode funcionar se não se basear nos princípios do trabalho, da coerção
produtiva, da concorrência em economia de mercado e do egoísmo individual”.
“(...) Quando milhões de outros, que mal suportam a vida frenética a que os
obriga a ditadura do trabalho, caem no isolamento e na solidão, narcotizam a
inteligência sem qualquer prazer e adoecem física e psiquicamente? Quando o
mundo é transformado num deserto, apenas para que com o dinheiro se possa fazer
mais dinheiro? Pois bem. Esse é realmente o modo como o vosso grandioso sistema
do trabalho «funciona»”
·
“(...) Para fazer com que a humanidade
interiorizasse a ditadura do trabalho e do egoísmo, foi preciso começar por
exterminar as instituições auto-organizativas e de cooperação autodeterminada
típicas das antigas sociedades agrárias. Talvez tenha sido realizado um
trabalho perfeito. (...) Não podemos saber se será bem sucedida a libertação
desta forma de vida condicionada. Está em aberto a questão de saber se a
derrocada do sistema do trabalho conduzirá à superação da respectiva loucura ou
ao fim da civilização”.
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“(...) Não nos referimos apenas aos sectores de
trabalho que são claramente perigosos para a comunidade, como a indústria
automóvel, a indústria de armamento e a indústria nuclear; falamos também da
produção das inúmeras próteses de sentido, dos ridículos objectos de
pseudodiversão destinados a simular um sentido substitutivo para a vida
desperdiçada, imposta aos homens da sociedade do trabalho (...)”.
·
“Já estamos a ouvir o grito: Ai, tantos postos
de trabalho! Mas, com certeza. Calculai calmamente quanto tempo de vida a
humanidade rouba diariamente a si mesma só para acumular «trabalho morto», para
administrar os indivíduos e deitar umas gotas de óleo na engrenagem do sistema
dominante. (...) Não acabarão de modo algum todas as actividades, quando a
coerção do trabalho desaparecer. Serão, sim, as actividades a mudar de carácter
a partir do momento em que já não estiverem confinadas à esfera do tempo
abstracto, linear, e da respectiva finalidade autotélica e sem sentido, passando
cada actividade particular, pelo contrário, a poder seguir o seu próprio ritmo,
individualmente variável e integrado em contextos de vida pessoais; e nas
formas maiores de organização da produção serão os indivíduos a determinar eles
próprios os ritmos, em vez de se submeterem às determinações da ditadura da
valorização do capital na lógica da economia empresarial (...)”.
·
“Não dizemos que todas as actividades se
tornarão um prazer. Umas mais, outras menos. Naturalmente, há sempre algo que
necessariamente tem de ser feito. Mas quem há-de assustar-se com tal coisa, se
a vida não for consumida nisso? E haverá sempre muito mais coisas que podem ser
feitas por livre escolha. Porque faz falta a actividade, tal como faz falta o
ócio. Ora, o trabalho nunca conseguiu suprir esta falta. Limitou-se a
instrumentalizá-la no seu interesse, a sugá-la vampirescamente”.
·
“(...) Não vos dizemos nada de novo. E, no
entanto, nunca retirareis as consequências daquilo que tão bem sabeis. Porque,
de facto, continuais a abster-vos de tomar qualquer decisão consciente sobre
quais os meios de produção, de transporte e de comunicações que faz sentido
utilizar e quais os que são prejudiciais ou simplesmente supérfluos (...)”.
XVIII - A LUTA CONTRA O
TRABALHO É ANTIPOLÍTICA
A Morte de Danton, 1835.
·
“A superação do trabalho é tudo menos uma utopia
nebulosa. A sociedade mundial não pode manter-se na forma actual por mais
cinquenta ou cem anos. O facto de os adversários do trabalho terem de se haver
com um ídolo clinicamente morto não torna a sua missão necessariamente mais
fácil. Pois, quanto mais se agudiza a crise da sociedade do trabalho e abortam
todas as tentativas de recuperação, mais se aprofunda o fosso entre o
isolamento das mónadas sociais desamparadas e as exigências de um movimento
de auto-apropriação da sociedade no seu todo (...)”.
·
“(...) Quem tem por objectivo a apropriação
emancipatória e a transformação de todo o contexto social dificilmente poderia
ignorar a instância que até agora organizou o quadro das respectivas condições
gerais. É impossível alguém rebelar-se contra a expropriação das suas
potencialidades sociais sem entrar em confronto com o Estado. Porque o Estado
não só administra cerca de metade da riqueza social, como garante também a
subordinação coerciva de todas as potencialidades sociais ao princípio da
valorização do capital. Daí decorre que nem os inimigos do trabalho podem
ignorar o Estado e a política, nem o Estado e a política podem contar com a sua
colaboração. Se o fim do trabalho é o fim da política, então um movimento
político para a superação do trabalho seria uma contradição nos termos. Os
adversários do trabalho apresentam exigências ao Estado; não constituem,
contudo, um partido político, e nunca formarão um. A finalidade última da
política só pode ser a conquista do aparelho de Estado para dar continuidade à
sociedade do trabalho. Daí que os adversários do trabalho não queiram ocupar os
centros de comando do poder, mas sim desactivá-los”.
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“(...) Liberdade significa não deixar que se
seja triturado pelo mercado e não deixar que se seja administrado pelo Estado,
e em vez disso organizar autonomamente todo o conjunto das relações sociais,
sem a intromissão de aparelhos alienados. (...) Trata-se de encontrar novas
formas de movimento social e de estabelecer testas de ponte para uma reprodução
da vida que se situe para lá da sociedade do trabalho. Trata-se de combinar as
formas de uma práxis de contra-sociedade com a recusa ofensiva do trabalho”.
·
“Os poderes dominantes podem declarar-nos
loucos, porque arriscamos a rotura com o seu sistema coercivo irracional. Não
temos nada a perder, a não ser a perspectiva da catástrofe para onde esses
poderes nos conduzem. Temos um mundo a ganhar, para lá das fronteiras do
trabalho”.
·
“Proletários de todos os países, acabai com
ele!”
REFERÊNCIA
MANIFESTO CONTRA O TRABALHO. Grupo Krisis; (Tradução Heinz Dietermann; com colaboração de Cláudio Roberto Duarte). - São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2003. - (Coleção Baderna).
Disponível em: http://obeco.planetaclix.pt/mctp.htm Acesso em: outubro de 2011.
[1] Carro...
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