Conto
premiado no evento: IV Concurso Prosa e Verso Bezerra e Silva, na categoria
Prosa; realizado pela Academia Palmeirense de Letras, Ciências e Artes -
APALCA; em 2010; a classificação foi: 1º Lugar.
Estávamos eu e Sula
caminhando pelas estreitas ruas daquela bela capital do mundo, tão antiga
quanto à linguagem em Português, do Brasil, mais que isso, anterior ao povo
brasileiro miscigenado.
Eram bem estreitas
aquelas ruas, mas quem as estreitava ainda mais eram os prédios antiquíssimos e
com os mais uniformes e ao mesmo tempo disformes detalhes, cores e adornos.
Andávamos em busca de
aventuras! Uma “balada”, certamente, que oferecesse luzes e música eletrônica,
bebidas e fumaça no ar, “suingue” e linguagem apenas corporal.
Adentramos a um espaço
grande, cuja fachada retangular deixava de ser vista céu acima, parecia,
perante aos nossos meros tamanhos, que ia além das nuvens.
As ruas estreitas e os
amontoados de prédios e pousadas já haviam ficado para trás, durante nosso
trajeto. Era como se, num passe de mágica, estivéssemos saído do contexto
urbano, e adentrado a uma pequena área pouco urbanizada e fora do complexo
urbano citadino e intrincado.
Tratava-se de uma enorme
boate, onde as pessoas esperneavam-se de alegria, em seus mais escuros e
profundos porões.
Empurramos uma porta
pesada e que de tão grande abria-se em duas partes.
No balcão, ao lado
esquerdo da gente, encontrava-se um jovem com comportamentos típicos de um
balconista noturno e a expressão de pouca conversa. Sula, como sempre mais
simpática e extrovertida do que eu, adiantou-se a mim e pediu as devidas
informações básicas para quem quer adentrar a um ambiente desses.
O balconista,
estranhamente reagiu, e saindo dos limites internos do balcão, veio para o vão
que se acabava numa escuridão plena e profunda e a nossa frente – de forma bem
sensual – começou a baixar sua calça de jeans.
Nós dois indagamos sobre
o que significava aquilo e ele verbalizou somente isto: - “não é isso que querem”?
Fizemos “caras e bocas” e
nos viramos em direção à porta de saída. Ele, já bravamente, nos interceptou e
nós, nos livramos dele instantaneamente e saímos em passos rápidos.
Quando adiantávamos
alguns passos para a área externa, percebemos que a cidade estava, de verdade,
bem longe de nós. Como poderíamos ali
estar, sem que nos déssemos conta que nos afastávamos tanto da cidade?
Ele escancarou as grandes
portas de madeira com muita facilidade e eu sugeri que Sula corresse em direção
ao urbano. Fechei os punhos, pois queria proteger a “fragilidade” de uma fêmea.
Percebi, porém, que havia um ferimento sem motivos em meus dedos, o que me
impediu de dar-lhe socos, como qualquer homem faria. Então fui ainda um pouco
racional e interceptei seu avanço sobre nós e especialmente sobre a Sula.
No impulso dos solavancos
eu dei-lhe muitas tapas no rosto com a palma da minha mão e o empurrei em
direção a um carro branco que ali estava estacionado, juntamente com tantos
outros.
Sula já corria e eu
demorei a acompanhá-la. Percebi também que atrás de nós já corriam muitos
rapazes, gritando freneticamente.
Consegui pegar a mão de
Sula e passei-lhe algumas informações: - “está
vendo aquela pequena moita à frente”? Ela deu sinal que sim. - “Então, ao chegarmos perto dela, adentre-a;
saia escorregando por entre as plantas rasteiras e suba naquela árvore que há
mais à frente; amanhã, antes que o Sol saía, vá para alguma daquelas árvores
que existem ainda mais à frente; ver-nos-emos lá, logo cedo”! “Certo”? - “Sim”,
bocejou Sula.
Já estávamos quase ao
lado da dita moita e ela se jogou para se esconder, como combinado. Passei a correr em
frente, mais pelo lado das plantas, para que desse a impressão que Sula
continuava a correr comigo e fazia gestos com o braço de quem puxa pela mão de
alguém já cansado. As plantas, do meu lado esquerdo, dificultavam a incidência
da luz do luar e impossibilitava que esta descobrisse meu segredo, isto é, Sula
já não corria comigo!
Daí então, eu continuei a
correr e parecia não ter fim aquele bosque forjado. Um momento de transe me
tomou e, quando me dei conta, estava de pé e já era dia; encontrava-me embaixo
de uma árvore, entre tantas, e Sula sentada num galho acima de minha cabeça.
A beleza feminina é ainda
mais perfeita quando vista de baixo. Olhei com firmeza, pois queria guardar em
minha mente aquela “fotografia” que fiz.
Falei para ela que já era
hora de descer e assegurei isso com carinho e proteção. Ela desceu escorregando
sobre meu corpo e minha pele leu todos os segredos do seu corpo e eu aproveitei
cada “onda” que em mim roçou e eu, então, mapeei todo o seu corpo.
O olhar assustado a
deixava ainda mais frágil e sensual. Então nós nos abraçamos, pois antes de
tudo havíamos sofrido uma perseguição e estávamos bem.
Encostei meus lábios
sedentos de paixão bem perto do ouvido dela e gostaria de dizer-lhe algo que
envolvesse ou descrevesse nossa aventura. Mas calei-me! E voltei-me para sua
fronte. Olhei nos seus olhos e ela nos meus. Uma vontade brutal e incontrolável
de tocar seus lábios dominou a mim e a ela também. Beijamo-nos, foi um beijo de
sonho, porém, mais real do que tudo aquilo que nos rodeava.
Ainda estávamos num local
intermédio, entre aquela boate louca e a cidade grande. Precisávamos chegar a
esta última.
Por fim, a cidade grande
já não mais existia. Era sim uma cidade! Minha cidade natal, pequena e nós
caminhávamos por suas ruas, ainda sem pavimentação.
Eu levava-a ao meu lado,
como minha namorada. Nem mesmo o sufoco e as sujeiras do campo noturno, tiraram
sua beleza e seu brilho.
Quando me dei conta da
realidade, percebi que estava – de verdade – na cidade grande, na Capital de um
País Europeu, mas com o pensamento em minha humilde cidade da América Latina,
especificamente da América do Sul. Era por volta de três e
meia da tarde, perto do fim do ano, caía granizo em Lisboa, Portugal, e eu
precisava tirar as roupas da máquina de lavar, e colocá-las na secadora de
roupas.
JaloNunes
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